Dois instrutores do curso 125 dos Comandos, anterior àquele que resultou na morte dos recrutas Hugo Abreu e Dylan da Silva, vão a julgamento por abuso de autoridade e ofensa à integridade física, noticia este sábado o jornal Público, assinalando que este será o segundo julgamento em que se vão sentar no banco dos réus os responsáveis desta força especial do exército português.

Os Comandos estão envolvidos em polémica desde 2016, ano em que os recrutas Hugo Abreu e Dylan da Silva morreram devido aos violentos exercícios físicos a que foram obrigados pelos instrutores do curso 127 da força especial. O caso, que gerou grande tumulto político no país, está em julgamento e deverá chegar ao final este ano (o acórdão deverá ser lido no dia 6 de setembro).

Todavia, mais recentemente soube-se que o Ministério Público também estava a investigar os cursos 123 e 125, de abril de 2014 e outubro de 2015. Nesses dois cursos, um grande número de recrutas chegou a estar em estado grave e a ter de ir para o hospital com lesões relacionadas com as provas físicas que, muitas vezes, incluem a obrigação de os recrutas se atirarem de cara para as silvas, rastejarem por cima delas ou serem sujeitos a longos períodos de esforço intenso e desidratação.

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Um dos recrutas ficou mesmo com danos permanentes, tendo sofrido uma rabdomiólise grave e uma “extensa destruição das fibras musculares que pode levar a uma insuficiência renal grave com risco de morte“. O jovem teve de estar internado durante semanas a fio, tendo inclusivamente sido submetido a hemodiálise, devido às provas a que o Exército o obrigou — e está até hoje incapaz de realizar exercício físico.

Além disso, diz o Público, o jovem ficou com outro tipo de lesões para a vida, incluindo fraturas de ossos no rosto e a perfuração de um tímpano, associados a bofetadas na cara e na cabeça que um dos instrutores do curso lhe deu. Era, explica o jornal, um “castigo” por ter ficado para trás durante um exercício em que sofreu desidratação e se sentiu mal.

De acordo com o Público, as investigações relativas àqueles dois cursos anteriores ao de 2016 já foram concluídas e deram origem a acusações do Ministério Público, deduzidas em abril e maio deste ano. No caso do curso 125, o caso vai diretamente para julgamento, com dois militares instrutores no banco dos réus. Já no que toca ao caso do curso 123, há quatro acusados, mas foi pedida a fase de instrução.

Segundo o advogado Ricardo Sá Fernandes, que representa algumas das vítimas que estão a pedir indemnizações ao Estado, é precisamente o Estado que é responsável e “solidário com os seus funcionários ou agentes se as acções ou omissões se revestirem de ilicitudes”.

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