Há puristas que ficaram com alguma urticária quando a Ford baptizou com o termo “Mustang”, até aqui sinónimo de coupé desportivo junto do construtor norte-americano, o seu primeiro veículo eléctrico. Mas, polémicas à parte, a realidade é que o Mustang Mach-E é dos carros alimentados exclusivamente a bateria mais interessantes do mercado.

A Portugal, o SUV eléctrico chegará em Setembro, para depois, no início de 2022, surgir a versão mais desportiva, denominada GT, que eleva a potência e a capacidade de aceleração. Até lá, não faltam motivos de interesse ao Mach-E. Começa por assumir formas de SUV, ainda que com o certo toque de desportivo, pois não só é mais baixo do que o normal da classe – tem menos 2,7 cm de altura do que o Model Y da Tesla e menos 4,3 cm do que o ID.4 da VW –, como o terceiro pilar do tejadilho mais inclinado lhe confere um ar mais dinâmico.

2 baterias e 3 níveis de potência. Que serão 4

Para alimentar os motores eléctricos, o Mustang Mach-E conta com duas capacidades de bateria, mas ambas mais generosas do que o normal. Como entrada de gama, este SUV da Ford oferece uma bateria com 75,7 kWh (68 kWh úteis), denominada Standard, para depois nas versões mais potentes, com maior autonomia, ou ambas, surgir um acumulador com 98,7 kWh (88 kWh úteis), apelidada Long Range, muito maior do que seria de esperar encontrar num modelo com 4,71 m de comprimento, o que o posiciona entre os 4,58 m do ID.4 e os 4,75 m do Model Y.

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Ambos os acumuladores podem ser recarregados em corrente alterna (AC) ou contínua (DC), no primeiro caso com uma potência até 11 kW, o limite do carregador onboard, para em carga rápida (DC) poder atingir 115 kW nas versões de baterias Standard e 150 kW nas Long Range.

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Se para perseguir a máxima eficácia e potência o Mach-E oferece versões com dois motores (AWD), um por eixo, para maximizar a tracção integral, para reduzir custos e preços, além de aumentar a autonomia, complementa a gama com versões com apenas tracção traseira (RWD). Daí que surjam duas versões RWD, uma com bateria Standard e um motor com 269 cv, para a segunda adoptar o acumulador Long Range e um motor com 294 cv.

As versões do Mach-E com tracção integral são também duas, com um dos AWD a estar associado à bateria Standard e a dois motores que são modulados para debitar um total de 269 cv, para a versão AWD mais potente recorrer à bateria Long Range e a dois motores que totalizam 351 cv. Sabendo-se que, em 2022 surgirá a versão GT, com 487 cv.

Surpresa ao volante

Sentámo-nos ao volante do Mach-E AWD com bateria LR e 351 cv, o mais potente de momento disponível e a sensação é surpreendente. Para o primeiro veículo eléctrico da marca, o SUV é espaçoso, sem parecer demasiado alto ou até volumoso ou pesado. Apesar de recorrer à primeira plataforma para veículos eléctricos da Ford, o SUV Mustang a bateria bate-se sem preconceitos com a concorrência. Basta compará-lo com o ID.4 e o Model Y.

Contra o SUV da VW, ambos com a bateria com pouco mais de 75 kWh e apenas um motor, o Ford anuncia um peso de 1969 kg, contra 2124 kg do concorrente alemão, uma vantagem de 155 kg. Contra o Model Y, que se prepara para receber novas baterias e mais trunfos, o Mach-E reivindica 2063 kg e o Tesla 2078 kg, com ambos em igualdade de bateria e com dois motores, apesar de o Y possuir ligeiramente mais potência (351 cv em vez de 294 cv). Mas o grande trunfo é a bateria Long Range, que eleva os 400 km de autonomia da versão Standard AWD (440 km com o RWD) para 610 km entre recargas do RWD (540 km do AWD).

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Conduzimos o Mach-E AWD Long Range, com 351 cv, que revelou ser confortável, com boa posição de condução, ligeiramente mais elevada, como agrada aos amantes dos SUV. O condutor tem à frente um pequeno painel de instrumentos digital, baixo e largo, completado pelo generoso ecrã central vertical com 15,5”, que tem destacado em baixo os comandos da ventilação para facilitar a utilização.

A consola central inclui um ponto de carga por wireless para telemóvel, junto ao comando rotativo para a transmissão. O tejadilho panorâmico é opcional e o espaço à frente, mas sobretudo atrás, é generoso para as dimensões do modelo. Os materiais são ajustados ao preço, bem como a qualidade de construção, com o Mach-E a poder satisfazer a maioria neste domínio. A bagageira disponibiliza 402 litros atrás, que reforça com a “frunk”, que coloca à disposição dos utilizadores mais 88 litros à frente.

Arrancámos com a bateria recarregada e o Mach-E a prever uma autonomia de 503 km, devido à utilização anterior de que foi alvo, mas não muito longe dos 540 km anunciados pelo fabricante. Dos três modos de condução (Active, Whisper e Untamed), optámos pelo Whisper, deixando de lado o sistema “One Pedal” (que obriga a habituação sem se revelar mais eficiente) e a regulação do sistema de regeneração da energia, que preferimos conseguir através da normal pressão no pedal de travão, como se tratasse de um modelo qualquer com motor de combustão.

Como é ao volante e quanto custa

Numa utilização mais citadina, o ideal para os eléctricos, o Mustang Mach-E atingiu um consumo médio de 16,6 kWh/100 km, o que não sendo um recorde, revela ainda assim uma eficiência interessante, que subiu para 20,1 kWh à medida que a percentagem de quilómetros em auto-estrada se tornaram maioritários. Foi neste tipo de utilização que testámos o que a Ford denomina Nível 2 de autonomia, que mantém o carro ao centro da via e respeita a velocidade pré-programada e a distância ao carro da frente, podendo acelerar ou travar consoante as condições.

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Não chegámos a colocar à prova o melhorado Park Assist 2.0, que aparentemente consegue estacionar em fila com uma folga mais pequena, de somente 92 cm. Mas gostámos da solução inteligente e muito norte-americana que torna possível que o condutor vá dar um mergulho à praia, ou fazer surf, sem levar consigo a chave do carro ou o telemóvel. Basta programar o Mach-E e trancar e destrancar as portas (e a ignição) introduzindo um código através das teclas que existem no pilar B.

O Mustang Mach-E pode ser pré-encomendado, com as entregas agendadas para Setembro. A versão mais acessível é o Mach-E RWD Standard, com 269 cv e um preço de 50.100€, para a versão RWD Long Range e 294 cv ser proposta por 58.000€. O Mach-E AWD Standard, com 269 cv, exige um investimento de 57.500€, para o seu “irmão” AWD Long Range e 351 cv ver o seu custo disparar para 66.800€. Como todos os eléctricos da Ford, também este pode ser negociado, configurado e pago online, mas com a entrega a ser obrigatoriamente assegurada por um concessionário tradicional. Pelo menos, para já…