Em vésperas da estreia no Euro2020 de futebol, diante de Portugal, nem todos os adeptos estão otimistas quanto ao desempenho da Hungria e há quem tenha apostado centenas de euros em três derrotas dos magiares no Grupo F.

É o caso de Zoltán Csák, que, em inglês fluente, deu logo o prognóstico para o jogo de terça-feira, quando percebeu que estava a transportar no seu táxi os três jornalistas da agência Lusa pelas ruas de Budapeste.

“Vão ganhar facilmente. A Hungria vai perder os três jogos. Ainda por cima, não temos o nosso melhor jogador, o Dominik Szoboszlai”, atirou de imediato, sem meias palavras, embora lembrando: “Quem não nos vencer, vai cair connosco, portanto as três equipas fortes têm de nos ganhar, se quiserem seguir em frente”.

O favoritismo de Portugal, França e Alemanha no Grupo F é mesmo uma certeza para este cidadão húngaro, de 30 anos, e nem o facto de a Hungria jogar em casa nos dois primeiros jogos, com portugueses e franceses, é sinónimo de maior esperança para Zoltán.

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“Jogar em casa poderia ser um ponto a favor, mas não temos um marcador de golos, um goleador, nem um bom meio-campo. Temos bons defesas, como o Attila Szalai e o Willi Orbán, mas, se apanharmos uma equipa mais forte, que esteja sempre no ataque, vamos sofrer. Não vamos conseguir conquistar pontos neste grupo”, antecipou.

Zoltán está tão convicto no seu pessimismo, que confessou à Lusa que apostou bom dinheiro nas vitórias de Portugal, França e Alemanha: “Apostei 200 euros na derrota da Hungria nos três jogos. Se ganhar a aposta, recebo 600. Claro que, se ganharmos os jogos, ficarei muito contente e não vou querer saber se perco os 200 euros”.

Mesmo sem Szoboszlai, o trio de portugueses que viaja no táxi apontou a Zoltán alguns nomes importantes que compõem a seleção húngara, como o experiente Peter Gulácsi, guarda-redes titular do vice-campeão alemão Leipzig e da equipa nacional magiar.

“Joguei com o Gulácsi um ano, no último ano de formação, no MTK, antes de ele ir para o Liverpool. É um bom guarda-redes no Leipzig, mas na seleção deixa muito a desejar”, revelou, dando logo a entender que também tinha passado pelos relvados do futebol húngaro.

Zoltán foi avançado, passou por vários clubes na Hungria, como MTK, Puskas Akademia, Békéscsaba, FC Dabas ou Dorogi, mas encerrou o ciclo de jogador no ano passado, muito desgostoso com a modalidade e com o “sistema do futebol húngaro”.

“Retirei-me no ano passado. Joguei três anos na primeira divisão, cinco na segunda e cinco na terceira. E acabou para mim. O sistema do futebol húngaro não é muito correto. Mesmo que sejas um bom jogador, se não houver influência externa, de um pai ou empresário conhecidos, por exemplo, não jogas. Foi por isso que decidi parar, já não quero saber”, lamentou, visivelmente desapontado com o futebol do seu país.

Quase a chegar ao estádio Puskás Arena, o destino que lhe tinha sido indicado, uma breve interrupção nas confissões, para ‘encarnar’ o papel de guia turístico: “Este é um grande centro comercial. Se quiserem fazer compras, tem boas lojas de roupa, de marcas conhecidas”.

Do outro lado da estrada, o novíssimo recinto húngaro, que vai acolher a estreia de Portugal no Euro2020, e cuja reconstrução foi concluída no final de 2019, merece enormes elogios por parte de Zoltán, que ali esteve no ano passado, para assistir à Supertaça Europeia.

“É um fantástico estádio, finalmente temos um estádio em condições para os jogos da seleção. É moderno. O outro era um bocado comunista. No ano passado, estive aqui a assistir ao jogo da Supertaça Europeia, entre o Bayern e o Sevilha. Foi incrível. Um amigo meu trabalha na federação húngara e arranjou-me um passe ‘VIP’. Este estádio é um dos melhores na Europa”, assinalou.

Um ano volvido sobre a vitória dos bávaros nos penáltis, Zoltán vai ficar no exterior do estádio e ver os jogos da seleção húngara pela televisão, porque “o sistema de compra de bilhetes era incrivelmente difícil e era preciso perder-se duas horas na internet com todo o processo e burocracias, por causa do coronavírus”.

“Agora, podemos comprar, mas custa três ou quatro vezes mais. O preço normal de um bilhete seria entre 30 e 50 euros, agora pode chegar aos 300”, disse, no exato momento em que parava o táxi e dava por terminada a ‘corrida’, mas também a ‘viagem’ a um passado não muito distante.

Portugal, que é o detentor do troféu, integra o grupo F do Euro2020, juntamente com Hungria, Alemanha e França, tendo estreia marcada na competição para terça-feira, dia 15 de junho, diante dos húngaros, em Budapeste, antes de defrontar os germânicos, em 19 de junho, em Munique, e os franceses, em 23 de junho, novamente na capital magiar.

O Euro2020, que foi adiado para este ano devido à pandemia de Covid-19, realiza-se em 11 cidades de 11 países diferentes, entre sexta-feira e 11 de julho.