Num dos últimos treinos em Zeist antes da estreia no Campeonato da Europa, algum adepto mais convicto de que a sua verdade deveria ser a verdade de uma equipa alugou uma avioneta e pintou a mensagem “Frank, apenas 4x3x3”. De Boer viu, ficou a olhar, continuou o treino. Será que ia mudar alguma coisa? “Avioneta? Olhe, obrigado pelo conselho mas vou manter-me fiel ao 5x3x2”. Avisou. Cumpriu. E ganhou. Também pela tática.

Países Baixos vencem Ucrânia em Amesterdão por 3-2 com cinco golos na segunda parte

Com os laterais, sobretudo Dumfries, sempre a conseguirem dar largura e profundidade ao jogo ofensivo dos Países Baixos, combinando depois com as movimentações em diagonal de Depay e as chegadas de Wijnaldum, foi essa forma que permitiu não só marcar três golos mas também criar inúmeras oportunidades de golo frente a uma Ucrânia que apareceu durante cinco minutos para dar emoção à partida antes de voltar a não ser fiel à sua ideia e sofrer o 3-2 final. O Países Baixos-Ucrânia foi o jogo com mais qualidade ofensiva até ao momento mas quase sempre por parte da equipa da casa, que revelou de novo o problema do costume na gestão das vantagens mas foi a tempo ainda de ganhar a partida e começar da melhor forma a fase de grupos em Amesterdão.

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E se muitos olhos estavam focados na Arena Johan Cruyff, os do Barcelona ganharam uma outra relevância. Para o bom, para o mau. Se por um lado é evidente o erro cometido no processo Wijnaldum, com a demora a resultar numa fuga do médio para o PSG, por outro Memphis Depay pode ser um jogador importante para um ataque que será reforçado para já por Kun Agüero (e que deverá continuar a contar com Messi. E como nunca é demais estar atento ao que se passa, Dumfries mostrou de novo que é um lateral capaz de jogar nas principais equipas europeias, num sistema de 5x3x2 ou numa linha defensiva a quatro. Pelo menos já não perderia tudo…

O jogo a três toques

Para recordar

Wijnaldum já tinha avisado há muito o Liverpool de que iria sair no final da temporada a custo zero (e nem por isso deixou de ser opção de Jürgen Klopp, mas isso é outra coisa) e tudo apontava para que se juntasse a Frenkie de Jong no Barcelona, naquele que passaria a ser um meio-campo de origem holandesa que ajudaria e muito os catalães a construírem uma nova base. Os blaugrana demoraram um pouco mais, o PSG colocou-se no meio das negociações, atravessou-se com uma proposta de dez milhões líquidos por temporada e garantiu um excelente reforço para um setor que não tinha ninguém com as características de chegada do médio. As mesmas que, na primeira parte, valeram duas oportunidades aos Países Baixos. As mesmas que, no início do segundo tempo, deram a possibilidade à equipa da casa de inaugurar o marcador e jogar de outra forma a partir daí.

Para esquecer

Shevchenko sabe que não tem Shevchenkos na equipa. É normal, é natural, é inevitável, ou não tivesse sido ele um avançado Bola de Ouro com uma carreira ímpar construída sobretudo na sempre complicada Serie A. No entanto, a Ucrânia tem valores sobretudo do meio-campo para a frente com demasiada qualidade para ter tão poucas chegadas às zonas de finalização como nos primeiros 75 minutos. Zinchenko, Malinovskyi,  Yarmolenko, Yaremchuk ou Marlos, que entrou ainda na primeira parte, tiveram até então muito pouco jogo ofensivo e nunca colocaram à prova uma defesa holandesa ainda sem as rotinas normais pela introdução de Timber na equipa. Depois, quando Yarmolenko marcou (75′), essa qualidade veio ao de cima e Yaremchuk ainda chegou a fazer o empate na sequência de um livre lateral na esquerda (79′). Mas porque demorou tanto tempo? E porque acabou logo depois do empate, com o custo que acabaria por ter mais tarde no resultado final.

Para valorizar

Já não são muitos os jogadores da seleção dos Países Baixos que ainda jogam no país e que, em paralelo, nunca tiveram uma experiência fora do país. Olhando para o onze inicial, eram apenas dois. E um, Jurriën Timber, não devia entrar bem neste número, porque depois de uma formação repartida entre Feyenoord e Ajax fez a estreia no conjunto principal de Amesterdão na presente temporada e tem apenas 19 anos. Sobra Denzel Dumfries. Ou, neste caso, sobra literalmente Denzel Dumfries. O lateral de 25 anos que passou pelo Sparta de Roterdão e pelo Heerenveen antes de chegar ao PSV em 2018 voltou a ser um elemento capaz não só de reagir da melhor forma nas transições defensivas, sabendo que era daí que vinha o perigo da Ucrânia, mas e dar largura e profundidade à equipa pela direita entre uma oportunidade perdida a abrir, um falhanço clamoroso na pequena área, a participação direta nos lances dos dois primeiros golos da equipa de Frank de Boer nas costas de Zinchenko e o golo decisivo a cinco minutos do final depois do inesperado empate da Ucrânia em menos de cinco minutos.