Dois terços das empresas não se candidataram a nenhuma medida de apoio à economia nos últimos três meses e 62% consideram burocrático o acesso a estes apoios, segundo um estudo da CIP — Confederação Empresarial de Portugal, esta segunda-feira divulgado.

Estes resultados, que integram o 16.º inquérito realizado no âmbito do projeto “Sinais Vitais”, desenvolvido pela CIP, em parceria com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE, levaram o vice-presidente da CIP Armindo Monteiro a ressalvar que nesta crise pandémica “a vacina ainda não chegou às empresas”.

Segundo o estudo, realizado entre 1 e 10 de junho junto de uma amostra de 397 empresas, dos 66% de empresas que afirmaram não ter recorrido a nenhum apoio público nos últimos três meses, 44% não se candidataram por não preencherem as condições de elegibilidade requeridas. Um número que “nos dá pistas para olharmos para os programas” de apoio para ver “como se adequam às necessidades” das empresas, segundo Armindo Monteiro, que falava na apresentação do estudo.

Em paralelo, 31% das empresas entendem que o acesso a estes apoios públicos é muito burocrático, havendo outros 31% que o classificam de burocrático. A esta leitura juntam-se os 79% de empresas que consideram que os apoios estão muito aquém ou aquém do que é necessário para responder à crise causada pela pandemia.

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Em paralelo, acentua o estudo, mais de metade (55%) dos empresários e gestores de topo inquiridos acreditam que “o PRR [Programa de Recuperação e Resiliência] não terá significado para a atividade da sua empresa”. Para o vice-presidente da CIP, quando cerca de dois terços de empresas não se candidatam aos apoios e quase metade não o faz por questões de elegibilidade, se este panorama se mantiver em relação ao Programa de Recuperação e Resiliência deve “questionar-se qual é o público que este PRR procura potenciar”.

“Quando o Governo decide quais os investimentos que são elegíveis, e [isso] faz com que metade das empresas não tenha condições [para aceder] devemos questionar-nos se os critérios são os adequados”, referiu, ressalvando que não está em causa que o Governo não tenha uma palavra a dizer sobre os investimentos que são prioritários, mas apenas que se devia questionar os resultados.

Salientado que, ao contrário do que sucedeu em relação à doença causada pela Covid-19, “a vacina ainda não chegou às empresas”, o responsável referiu que os resultados do estudo permitem perceber que “a tempestade vai passar”, mas alertou que “as escolhas que se fazem agora podem alterar profundamente o tecido empresarial” e que as empresas não vão sair incólumes das decisões que são tomadas.

Neste contexto, e questionado sobre o facto de o Governo ter decidido que as empresas com mais de 150 trabalhadores num local de trabalho passam a ser obrigadas — em determinadas circunstâncias — a fazer testes e a custeá-los, Armindo Monteiro salientou a diferença face ao que se passa em outros países da União Europeia.

“Os empresários vão assumir esses custos porque as empresas precisam de trabalhar e, se para tal for necessário suportar mais um custo, os empresários fá-lo-ão”, referiu, defendendo, no entanto, que seria preferível que se pudesse contar com regras idênticas ao que se passa na União Europeia para “não se colocar mais” um custo “sobre as empresas portuguesas”.

“Esta tempestade vai passar, mas as escolhas que fazemos agora vão ter implicações no futuro e temos de ver se queremos ter um tecido empresarial mais forte ou mais fragilizado” referiu. O vice-presidente da CIP destacou também o facto de os programas de apoio terem incentivado a um reforço do endividamento das empresas, ou seja, de terem privilegiado “dívida em detrimento de apoios diretos”.

Num alerta sobre o endividamento do setor empresarial, salientou, neste momento, com as moratórias de crédito, ainda não está a sentir-se o peso da dívida e ainda não se tem noção de como este problema será resolvido. Os riscos de insolvência podem ter sido adiados, referiu, mas novas pressões de liquidez “podem levar a falências sobretudo se a recuperação demorar”.

Segundo o estudo, 85% das empresas estão em pleno funcionamento (um número idêntico ao registado em janeiro, antes de ter início o segundo confinamento geral). Relativamente à evolução de vendas e prestação de serviços, 46% das empresas reportaram quebras numa comparação de maio de 2021 com o mesmo mês de 2019, enquanto 29% reportaram uma manutenção e 25% um aumento.