O escândalo do Dieselgate provou que todos os fabricantes alemães estavam envolvidos na manipulação das emissões dos motores diesel, ainda que a níveis distintos, tendo por isso sido punidos com multas elevadas. Agora, passados seis anos desde que se descobriu a trama, são os construtores franceses que passam a estar na berlinda. Primeiro foi a Renault, para dias depois as atenções recaírem na Peugeot e na Citroën, com a promessa de que em Julho será a vez da Fiat-Chrysler e “uma outra marca” da actual Stellantis, de acordo com um comunicado da própria empresa, serem visadas.

Os testes aos veículos comercializados em França com motores diesel começaram a ser realizados há cinco anos, de acordo com os procedimentos definidos pela comissão Royal e controlados pelo Ministério do Ambiente francês. Ségolène Royal, que liderou o projecto, decretou uma série de testes em 2015 a modelos da Volkswagen, Renault, Peugeot, Citroën, Fiat e Opel. Dois anos depois, foi aberta uma acusação de abuso contra os vários fabricantes, para confirmar a possibilidade de algum deles ter utilizado um software malicioso que ludibriasse os testes, poluindo menos, para depois poluir mais em condições normais de utilização.

A Renault, através do seu responsável de engenharia, Gilles Le Borgne, declarou que “todas as investigações provaram que nós nunca utilizámos dispositivos com detecção de ciclo – referindo-se ao ciclo de testes (NDR) –, ao contrário do que acontecia na Volkswagen, o que prova que os nossos veículos se comportavam da mesma forma durante os testes ou em condução normal na via pública”. Le Borgne avança ainda que “os sistemas de tratamentos de gases de escape melhoraram muito com o passar dos anos e não devem ser analisados à luz dos sistemas de tratamento de gases que hoje é possível fabricar”.

A Renault lamenta ainda que, durante cinco anos, nunca tenha tido a oportunidade de debater as acusações, continuando a afirmar que não fez nada de errado. Isto não evita que tenha de caucionar 20 milhões de euros, dos quais 18 milhões serão alocados a um eventual pagamento de indemnizações e multas, além de avançar com uma garantia bancária de 60 milhões de euros para compensar eventuais prejuízos.

As antigas marcas da PSA, respectivamente a Peugeot e a Citroën, estão a passar por um processo similar. A Peugeot caucionou 10 milhões de euros, enquanto a Citroën colocou de lado 8 milhões. E a primeira entregou uma garantia bancária de 30 milhões, ao passo que a segunda avançou 25 milhões. De acordo com um comunicado da Stellantis, dirigida pelo português Carlos Tavares, a empresa está a avaliar a acusação e estudar uma resposta, enquanto a Direction Général de la Concurrence, de la Consommation e Répression des Fraudes (DGCCRF) acusa as marcas da ex-PSA de ter “comercializado 1,9 milhões de veículos Euro 5, cujo motor funciona de acordo com estratégias fraudulentas em França, entre 2009 e 2015″.

A Stellantis afirma estar “convencida que todos os motores que comercializou tinham montados sistemas de controlo de emissões que respeitavam as exigências aplicáveis à época” e sublinha que “aguarda com impaciência a oportunidade para o demonstrar”. Perante as infracções detectadas, a DGCCRF admite que a multa máxima à PSA poderá atingir 5 mil milhões de euros. Uma quantia astronómica, mas ainda assim uma gota de água face ao que a entidade reguladora francesa espera aplicar à Volkswagen AG, que poderá atingir 19,7 mil milhões de euros. De recordar que o grupo alemão foi ouvido no passado 6 de Maio.

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