O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás angolano considera que “é de todo o interesse” consolidar a aliança com a Galp, adiantando que alguns projetos estão ainda por concretizar devido aos desafios “tecnológicos e financeiros” que representam. Diamantino Azevedo abordou, em entrevista à Lusa, a relação entre a petrolífera estatal angolana Sonangol e a Galp Energia, uma aliança que interessa consolidar.

“É evidente o interesse de preservação e consolidação desta aliança e que não deve em circunstância alguma ser ignorada”, destacou o ministro, rejeitando que as sinergias entre as duas empresas estejam subaproveitadas e apontando o caso da Sonangalp, resultante de uma joint venture entre a Galp Energia e a Sonangol que opera uma rede de postos de distribuição de produtos petrolíferos em Angola.

Para este “entendimento“, segundo Diamantino Azevedo, é também relevante o facto de no segmento de ‘upstream’ (exploração e produção de petróleo) Sonangol e Galp estarem em igualdade de circunstâncias do ponto de vista da dimensão das participações nas concessões petrolíferas, “sem que nenhuma esteja arredada de uma projeção futura à condição de operadora no upstream“.

Para o responsável da tutela do petróleo, a “falta de materialização até ao momento de projetos no upstream decorre fundamentalmente da ponderação relativa aos desafios tecnológicos e financeiros impostos pelos investimentos em águas profundas e ultraprofundas, que são a origem de cerca de 70% do petróleo de Angola“.

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Queremos deixar claro que, quer a nível dos investimentos que fazemos, quer na forma de participação na Galp, a Sonangol estará sempre atenta às oportunidades que se apresentarem”, indicou.

Em março deste ano, a Sonangol, que detém uma participação indireta na Galp através da Amorim Energia, na qual detém 45% através da Esperanza Holding, de que também é acionista a Exem Energy, ligada à empresária angolanaIsabel dos Santos, admitia a possibilidade de se tornar acionista independente.

Diamantino Azevedo destacou também o “potencial de estabelecimento de sinergias” entre as duas empresas na área da transição energética, dando como exemplo a energia eólica.

“Temos o nosso próprio pensamento sobre a transição energética, mas não estamos dissociados disso, tanto a nível do país, como do setor dos petróleos”, afirmou, realçando que a Sonangol está a desenvolver duas centrais de energia solar fotovoltaica e a desenvolver projetos de hidrogénio verde no seu centro de pesquisa.

O ministro salientou também que há interesse de novos players entrarem no mercado angolano: “Temos uma boa relação com as empresas internacionais que operam em Angola, estamos em constante interação e temos a certeza de que veem com bons olhos as medidas que temos tomado”. “Vemos interesse de empresas, tanto grandes como de média e pequena dimensão, que ainda não estão no nosso país, de atuarem aqui na indústria de petróleo em Angola”, reforçou.

Diamantino Azevedo reconheceu que este é um “momento difícil, não só para a indústria do petróleo“, mas acredita que as empresas valorizam as mudanças que têm estado a ser promovidas pelo executivo angolano para melhorar a atratividade do setor.

O estudo sobre competitividade da indústria do petróleo em Angola que está a ser desenvolvido irá “dar mais fundamento para fazer alterações, se necessário, ao nosso pacote legislativo”, complementou.

Angola reduz previsão de produção de petróleo em 27 mil barris/dia para 2021

A produção petrolífera de Angola deverá ficar este ano nos 1,193 milhões de barris de petróleo diários, uma meta inferior em 27 mil barris face às previsões iniciais, mas que o ministro angolano do Petróleo quer fazer cumprir.

“Para 2021, a previsão inicial era de 1.220.400 barris de petróleo/dia, entretanto houve um ajuste intercalar e temos como previsão 1.193.420 barris e o que estamos a fazer é no sentido de cumprir esta nova previsão”, adiantou Diamantino Azevedo.

O responsável lembrou que a produção angolana é maioritariamente proveniente de campos maduros, que já atingiram um pico de produção e estão em fase de declínio, o que só poderá ser revertido ou mitigado com investimentos na pesquisa, tendo sido aprovada uma estratégia nacional para aumentar o conhecimento sobre o potencial de petróleo em Angola. Também em 2020, a meta de 1.283.450 barris por dia ficou aquém do previsto e Angola produziu apenas 1.271.460 barris.

“Devido à Covid-19, o preço do petróleo sofreu uma baixa relevante, o que levou também ao atraso na atividade de sondagem de novos poços, muito importante para a sustentabilidade da previsão”, justificou Diamantino Azevedo.

O ano passado ficou marcado por quedas acentuadas nas cotações de petróleo, levando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), à qual pertence Angola, a atuar no sentido de equilibrar o mercado, ajustando a produção.

Com as projeções a apontarem para um aumento da procura global de petróleo entre 2022 e 2025, impulsionado pelo regresso ao crescimento de algumas economias, são de esperar reflexos a nível de preços, mas Diamantino Azevedo é cauteloso quanto a uma possível revisão do valor definido no Orçamento Geral do Estado (39 dólares).

Não temos previsão de revisão até este momento do preço previsto. É certo que ficaríamos satisfeitos se a média do preço ficasse acima do previsto no orçamento”, declarou.

O governante admitiu que houve falta de investimento no setor, sublinhando que, quando assumiu as suas funções, em outubro de 2017, ficou claro que seriam necessárias mudanças, que o executivo tem estado a promover.

Destacou entre estas a introdução de um novo modelo de governação em que foi retirada a função concessionária à petrolífera estatal Sonangol, agora assumida pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), a criação de um instituto regulador e o lançamento de um programa de licitações de blocos petrolíferos que se estende até 2025, bem como alterações à legislação para facilitar o investimento. “Vamos lançar em breve, através da ANPG, um estudo sobre a competitividade da indústria de petróleo em Angola, vai ser um instrumento para aperfeiçoar o ambiente de negócios em Angola”, avançou.

O governo tem estado também a trabalhar no aumento da capacidade de refinação do petróleo em Angola, prevendo a construção de três novas refinarias em Cabinda, cujas obras já se iniciaram, Soyo, atualmente em fase de negociações com o consórcio americano que venceu o concurso, e Lobito, cujo projeto está mais atrasado, embora o ministro mantenha a intenção de concluir a infraestrutura no atual mandato.

Foi necessário fazer reajustes no projeto porque não estávamos satisfeitos com o custo de capital”, afirmou Diamantino Azevedo, acrescentando que a revisão da componente tecnológica e económica já terminou e, em breve, o projeto será retomado.

Também “avançado” está o processo em torno da exploração de gás não associado ao petróleo, através de um consórcio em que participam a Sonangol e as multinacionais que operam em Angola (BP, Chevron, Total e Eni). “Estamos a finalizar tudo para que o consórcio possa finalmente, entrar em ação em breve”, referiu o governante, sem avançar datas.