Desde que existem registos estatísticos do Opta, nunca uma equipa tinha conseguido 419 passes numa primeira parte de um jogo da fase final do Europeu. A Espanha conseguiu. Nem nunca nenhuma equipa tinha conseguido 303 passes no meio-campo contrário nos 45 minutos iniciais. A Espanha conseguiu. Mais: nenhuma equipa tinha consentido só 38 passes ao adversário no seu meio-campo no primeiro tempo. E a Espanha também conseguiu. A certa altura, a Espanha ganhava 234-31 em passes com 81% de posse. Brutal, um domínio avassalador. Resultado? Isso que é bom e mais importa não tinha mexido. E até foi a Suécia a ter a melhor oportunidade.

Com uma equipa em 4x3x3 balanceada para o ataque com as movimentações pelos corredores laterais, onde à direita Marcos Llorente subia algumas vezes por dentro para Ferran Torrer vir receber fora e à esquerda Dani Olmo fazia diagonais para dentro dando a profundidade para a subida de Jordi Alba, a Espanha foi criando várias oportunidades ou com má finalização (Dani Olmo ao lado ou Koke após passe de Dani Olmo por cima) ou com defesas vistosas de Olsen, como aconteceu às tentativas de Dani Olmo e Morata. No meio da enxurrada de futebol ofensivo, Isak teve nos pés a única chance da Suécia após um passe a explorar a profundidade que acabou com um remate cortado por Marcos Llorente perto da linha de golo que bateu ainda no poste (43′).

Na segunda parte, mudaram os campos mas mantiveram-se as características até aos 70 minutos: Espanha com mais posse, com mais passes e com mais jogo ofensivo, Suécia bem organizada sem bola no plano defensivo e a criar perigo na segunda boa saída até ao último terço que teve, com Isak a ter uma jogada fantástica e a assistir para o falhanço de Berg. Com a saída dos avançados, e as alterações que Luis Enrique foi introduzindo entre Thiago Alcântara, Sarabia, Ayorzabal, Gerard Moreno e Fabián Ruíz, os espanhóis cresceram, obrigaram Olsen a mais duas defesas apertadas mas o nulo não foi desfeito e a Eslováquia lidera o grupo de forma surpreendente.

O jogo a três toques

Para recordar

Alexander Isak começou desde novo a ser apelidado como o novo Ibrahimovic. Era alto, era móvel, era bom de bola, não tinha o instinto nem a liderança daquele que foi nas últimas duas temporadas a grande bandeira dos suecos. Até certo pontos, o B. Dortmund apostou nisso, pagou mais de oito milhões ao AIK para garantir aquele que era descrito como um prodígio precoce, emprestou-o depois ao Willem II e aceitou vendê-lo dois anos depois, em 2019, à Real Sociedad (até por menos do que tinha gasto). Não acreditou e foi um erro: Isak, de 21 anos, está mais jogador, tem mais golo e ganhou outras valências ofensivas. Contra a Espanha não teve o jogo mais fácil mas nas duas vezes em que foi servido em 70 minutos ganhou ângulo para chutar e ver Marcos Llorente desviar para o poste (41′) e inventou uma jogada fantástica para um falhanço clamoroso de Berg ao segundo poste (62′).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para esquecer

Ter muitos avançados centro não significa fazer mais golos, não ter avançados centro não significa ter falta de ousadia ofensiva. O futebol é cada vez mais um jogo de equilíbrios onde interessam mais as dinâmicas coletivas do que as características individuais e a ideia da equipa do que uma ideia de um jogador. Depois, há a bola. E o problema da bola é que a Espanha fez dela um início e um meio sem perceber como lhe encontrar um fim: com Morata em campo não houve tanta presença na área para as situações criadas pelas laterais, com Sarabia e Ayorzabal a tentar pela mobilidade aquilo que a referência mais fixa não conseguira também não teve uma melhoria assim tão substancial. A nova geração da Roja sabe jogar mas ainda procura a baliza.

Para valorizar

Foi contratado pelo Barcelona de forma discreta ao Las Palmas, ficou mais uma temporada que foi tudo menos discreta no Las Palmas, estreou-se esta época onde foi o menos discreto no Barcelona. Pedri mantém a evolução que nem nos melhores sonhos poderia imaginar e, quando no início de 2020/21 era Ansu Fati a roubar todas as atenções enquanto coqueluche (sendo que entretanto se lesionou com gravidade no joelho), agora é o médio faz tudo a assumir esse protagonismo. Olhando para o encontro frente à Suécia até pareceu demasiado discreto por culpa própria, por querer fazer bem sem errar e bonito sem se perceber, quase fazendo lembrar os primeiros passos do Ilusionista Andrés Iniesta. Tornou-se esta noite o jogador mais novo de sempre numa fase final pela seleção espanhola, superando aos 18 anos o registo de Miguel Tendillo no Europeu de 1980, e, já com Thiago Alcântara em campo na primeira fase de construção, foi o dínamo para o forcing final dos espanhóis.