O exército senegalês anunciou esta segunda-feira ter tomado o controlo de cinco bases dos rebeldes do Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC) no sudoeste do país, junto à fronteira com a Guiné-Bissau, durante operações que começaram em maio.

“As operações em curso (…) permitiram a conquista das bases do MFDC na fronteira sudoeste, principalmente em Ahinga, Badem, Bagam, Bouniack e Djileor”, anunciou o coronel Souleymane Kandé, comandante na área intervencionada, numa declaração citada pela agência Efe.

“O principal objetivo desta operação era criar as condições para o regresso seguro da população ao seu território de origem”, acrescentou oficial do exército senegalês, em declarações divulgadas pelo portal de notícias Seneweb.

A operação deixou dois militares feridos, um oficial que pisou uma mina antipessoal e um soldado baleado, fez saber um comandante local, tenente-coronel Mathieu Diogaye Sene, em declarações aos jornalistas em Ahinga, a poucos quilómetros da fronteira, citado pela agência France Presse.

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A última intervenção, iniciada em 30 de maio na floresta de Bayottes — utilizada como base pelos rebeldes — na comuna de Nyassia, localizada no departamento de Ziguinchor, “desencadeou uma operação de segurança em grande escala para melhor controlar a fronteira com a Guiné-Bissau através da criação de postos militares”, especificou Kandé. “Têm sido cometidos vários abusos contra a população nesta zona. Os bandos armados, com atos de extorsão, procuram garantir simplesmente o direito exclusivo à exploração dos recursos florestais”, acrescentou o militar.

O exército senegalês realizou outra operação no final de janeiro, em que assumiu o controlo das últimas quatro bases históricas do MFDC no sul do país, na fronteira com a Guiné-Bissau. O objetivo foi neutralizar elementos armados que se refugiam na zona, permitir o regresso das pessoas deslocadas pela insegurança e combater as atividades ilegais dos bandos armados. A “neutralização de bandos armados” deverá ser acompanhada de operações de desminagem, segundo o coronel Kandé.

O conflito de Casamança, considerado de baixa intensidade, arrasta-se desde 1982 entre o governo de Dacar e o MFDC, que reivindica a independência daquela região, separada do resto do país pela vizinha Gâmbia, e que reclama historicamente sentir-se abandonada pelo executivo central.

Ao contrário do norte do país, mais árido, o sul do Senegal tem terras férteis e é muito rico em recursos florestais, sendo o tráfico ilegal de madeira nos últimos anos a principal fonte de rendimento do MFDC, de acordo com um relatório da organização não governamental (ONG) britânica Environmental Investigation Agency (EIA).

Casamança é também a zona mais turística do país, graças às suas praias e florestas, e, não obstante a rebelião pró-independência limitar este potencial económico, a região tem atravessado longos períodos sem incidentes violentos. No último período mais violento de que há registo, 14 madeireiros foram mortos em janeiro de 2018 por homens armados, mês em que também foram assaltados quatro turistas espanhóis — um homem e três mulheres — depois de terem parado o veículo em que viajavam.

Ao longo dos anos, a crise em Casamança causou centenas de mortos e forçou dezenas de milhares de pessoas a deslocarem-se ou a procurarem refúgio na Guiné-Bissau e na Gâmbia.

O Senegal parece contar com o apoio da Guiné-Bissau neste novo esforço de controlar em Casamança, desde que em 2020 um aliado do presidente senegalês Macky Sall, Umaro Sissoco Embaló, se tornou Presidente em Bissau. Sall tentou relançar as conversações de paz com o MFDC quando chegou ao poder em 2012, mas as divisões internas no movimento independentista impediram o sucesso das mesmas.