Em entrevista esta segunda-feira à noite à SIC Notícias, João Cotrim Figueiredo garantiu que voltaria a fazer o arraial que tanta polémica causou nesta véspera de Santo António, numa Lisboa em que as festas populares voltaram a ser, pelo segundo ano consecutivo, canceladas. “Foi um excelente arraial, extraordinária alegria, muita conversa boa, muita celebração e nem um único incidente”, observou o líder do Iniciativa Liberal (IL), para garantir logo a seguir que a organização cumpriu “todas as regras que eram logisticamente possíveis de cumprir”.

Apontando o dedo à Direção-Geral da Saúde, cujo e-mail com recomendações, revelou, só chegou à caixa de entrada da IL na sexta-feira às 20h06, “menos de 21 horas antes do evento”, Cotrim Figueiredo acusou a entidade de falta de razoabilidade e de fazer recomendações “completamente delirantes”, como servir as sardinhas em caixas e ter todas as pessoas sentadas.

Apesar de ter começado por dizer que concorda com o secretário de Estado Duarte Cordeiro, coordenador do combate à pandemia na região de Lisboa e Vale do Tejo — “Os partidos políticos têm de dar o exemplo” —, rematou com outro tipo de lição, menos temente às regras da DGS. “Não é só dar o exemplo de desobediências cegas, é dar o exemplo também de coragem e de vontade de voltar a viver”, disse, garantindo que no arraial da IL, em Santos, terão estado muitas pessoas que alinham pelo mesmo tipo de pensamento, de Lisboa e fora dela, e não apenas ligados ao partido.

Ainda assim, e não obstante a música, as sardinhas e os copos de imperial vendidos (que terão até dado prejuízo ao partido, disse também), Cotrim Figueiredo fez questão de garantir por mais do que uma vez que o que se passou em Santos este sábado à noite foi um evento puramente político. “As componentes não políticas deste arraial eram zero. Este arraial foi feito exatamente para ser uma demonstração política de que era possível a Fernando Medina ter feito aquilo que nós fizemos, em mais bairros, beneficiando mais bairros, beneficiando mais lisboetas e mais comerciantes”, explicou. “Um presidente da Câmara que não busca sequer soluções e que não liga às tradições de Lisboa não é um presidente que mereça lá ficar”, disse mais à frente, fazendo mira ao atual autarca e candidato pelo PS.

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Questionado sobre o assunto, o líder do IL discorreu ainda sobre a “suposta oposição” do partido à Festa do Avante e garantiu que nunca foi contra a sua realização mas sim contra o facto de a DGS ter criado regras específicas para o evento, inacessíveis ao resto da população portuguesa. Ato contínuo, criticou ainda o facto de a festa organizada pelo PCP não ser “apenas uma ação política, como foi este arraial” mas também uma “ação de angariação de fundos, na qual o PCP não paga impostos” e recordou que em setembro de 2020, ao contrário de agora, não ter ainda sido iniciada a campanha de vacinação contra a Covid-19.

Assegurando que acredita que organizar o arraial não foi uma irresponsabilidade e que não se lhe pode apontar qualquer falta de coerência, Cotrim Figueiredo preferiu olhar para as críticas generalizadas, à esquerda e à direita, como “uma medalha”, e disse que só demonstram as fragilidades e incoerências dos partidos que as proferiram. “O PS tudo o que quer neste caso é desviar as atenções do caso dos nomes dos ativistas russos”, particularizou, para depois garantir que não só não é a primeira vez que o IL fica isolado como não é sequer uma preocupação.

“Não nos deixamos dominar pelo medo e queremos que Portugal volte a crescer. Nos últimos três meses Portugal voltou a ser o país que mais caiu em termos económicos em toda a União Europeia. Como e quando vamos sair disto? São mais dois meses? E depois, mais dois? E depois, mais uma variante? Não, temos de saber viver com o vírus”, frisou no final da conversa. Minutos antes já tinha dito que não acreditava que do evento organizado pelo partido pudessem surgir quaisquer surtos de Covid-19. Mas que, na eventualidade de tal acontecer, não se esquivará às consequências.