A Arménia elege este domingo o seu parlamento em legislativas antecipadas convocadas pelo primeiro-ministro, Nikol Pashinyan, que tenta preservar o poder apesar da crise desencadeada pela recente derrota militar face ao Azerbaijão em torno do enclave do Nagorno-Karabakh.

Após alcançar a liderança do país através de uma revolução pacífica em 2018, com a promessa de afastar as elites corruptas do Governo desta ex-república soviética do Cáucaso, a popularidade de Pashinyan, antigo jornalista de 46 anos, foi questionada pelo conflito no Nagorno-Karabakh, no outono de 2020, com um desfecho particularmente amargo para os arménios.

Um cessar-fogo com mediação de Moscovo pôs termo a seis semanas de combates que provocaram cerca de 6.000 mortos e Erevan foi forçada a ceder territórios que mantinha há mais de 30 anos, uma decisão que implicou importantes manifestações da oposição e apelos à demissão de Pashinyan.

Esta derrota, recebida na Arménia como uma humilhação nacional, desencadeou uma crise política, incluindo um conflito entre o primeiro-ministro e uma parte da hierarquia militar que apelou à demissão do chefe de Governo, forçando Pashinyan a convocar legislativas antecipadas com o objetivo de tentar diminuir a tensão interna e renovar o mandato.

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No entanto, a sua vitória eleitoral está longe de adquirida, numa campanha caracterizada por uma extrema polarização da sociedade e das lideranças políticas e quando no rescaldo do conflito muitos dos seus antigos apoiantes se juntaram aos seus rivais, na sua maioria provenientes das elites afastadas do poder em 2018. O seu principal rival, o ex-Presidente Robert Kocharian, que dirigiu o país entre 1998 e 2009, tem acusado sistematicamente as autoridades de incompetência após o regresso do conflito armado com o arqui-inimigo e vizinho Azerbaijão, numa campanha em crescente crispação política.

Apesar de ter obtido mais de 70% de votos nas legislativas de há três anos, a única sondagem disponível fornecia ao partido Contrato Civil, de Pashinyan, apenas 25% dos votos, atrás da formação de Kocharian (cerca de 29%), mas à frente da coligação do ex-Presidente Serge Sarkissian (7,4%). A abstenção poderá rondar os 37%.

A Arménia já registou diversos tumultos pós-eleitorais. Antes da “revolução pacífica” de 2018, Pashinyan foi detido durante cerca de dois anos pelo seu envolvimento durante manifestações violentamente reprimidas em 2008. Cerca de 2,6 milhões de arménios são convocados às urnas para elegerem pelo menos 101 dos 132 lugares de deputados por cinco anos. Quatro coligações eleitorais e 22 partidos, um recorde, apresentam-se ao escrutínio, com diversas formações com possibilidade de elegerem deputados, segundo uma sondagem publicada na sexta-feira pelo instituto MPG, filial da norte-americana Gallup.

Caso não seja garantida hoje uma maioria estável no hemiciclo, prevê-se a organização de uma segunda volta em 18 de julho entre os dois partidos mais votados.