A vida de um selecionador numa fase final do Europeu é muito mais do que estudar uma equipa adversária, ir construindo e melhorando uma identidade, preparar a estratégia certa. Aliás, o principal trabalho de qualquer selecionador é gerir um grupo de trabalho, um conjunto de 26 jogadores que também são pessoas, que também têm vidas, que pertencem a clubes, que muitas vezes estão a decidir as suas vidas. Os Países Baixos tinham dois jogadores sobretudo nessa posição (agora a realidade é diferente mas por mérito próprio porque Dumfries vai saltar para a primeira linha do mercado pelo Euro que tem vindo a fazer). E que foram as grandes figuras do jogo com a Macedónia do Norte, que marcava a despedida do veterano Goran Pandev aos 37 anos.

“Sim, estou aliviado por estar tudo resolvido”, admitiu Frank de Boer, selecionador holandês, a propósito do anúncio oficial da contratação de Memphis Depay por parte do Barcelona. “Ele é o primeiro a criticar o jogo dele e sabe que pode fazer mais do que tem feito até agora neste Europeu. Esperamos e temos esperança, a bem da seleção e do futebol em geral, que possa atingir o nível que ele quer. Precisamos dele ao melhor nível para irmos o mais longe possível na prova porque é um jogador especial para nós”, comentou o antigo central. E o pedido foi ouvido, com o avançado a conseguir a melhor exibição e a estar nos três golos da vitória com os macedónios.

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Ponto prévio: a Macedónia merecia um golo. Teve dois bem anulados, teve outra bola no poste por Trajkovski, teve um Pandev sempre a dar um toque de classe ao seu jogo ofensivo. De preferência, se fosse ele a marcar, era melhor ainda. Não deu mas a despedida foi bonita, perante os aplausos de um Wesley Sneijder que não passaria no teste da balança (muito longe disso, ganhou mesmo muitos quilos). De resto, os Países Baixos dominaram por completo entre golos, bolas nos ferros, oportunidades falhadas e muito futebol. Depay marcou o primeiro após uma grande jogada de Malen (24′), fez a assistência para o segundo de Wijanldum (51′) e esteve ainda no 3-0 final, ao obrigar Dimitrievski a uma defesa de recurso antes de o médio bisar e juntar-se a Ronaldo e Schick entre os melhores marcadores (58′). O avançado que também é cantor mostrou o que sabe fazer mas o Barcelona ainda deve lamentar ter deixado fugir Wijnaldum para o PSG – foi mais um jogo para se arrepender disso…

O jogo a três toques

Para recordar

Já aqui falámos de Malinovskyi (Ucrânia), de Gosens (Alemanha), de Pessina (Itália). Ponto comum? Jogam todos na Atalanta, a máquina de futebol construída por Gasperini que nos habituou a chamar a atenção nos últimos anos na Serie A mesmo não estando num patamar em termos históricos de rivais de peso como Juventus, Inter, AC Milan, Roma, Nápoles ou Lazio. Também nos Países Baixos há um pouco dessa Atalanta com Marten de Roon, médio de 30 anos que foi titular nos dois primeiros jogos. Desta vez, numa das poucas alterações feitas por Frank de Boer, entrou no meio campo com Frenkie de Jong e Wijnaldum o jovem Ryan Gravenberch, outro produto da escola do Ajax. E que produto, acrescente-se: tem caminho para crescer, tem margem para evoluir no plano do posicionamento, mas tem qualidades físicas e técnicas para se afirmar a breve prazo no clube e na seleção.

Para esquecer

Se em relação à Turquia podemos falar de uma real deceção neste Europeu, o mesmo não se pode dizer no que toca à Macedónia do Norte: deu o que tinha, tentou o que conseguiu, marcou nos dois primeiros jogos, conseguiu levar aos recintos da competição aqueles que estão na luta pelo prémio de Adeptos do Ano. Mas, se não fosse a defesa, poderiam aspirar a mais: se no ataque chefiado por Pandev houve jogadores que até se conseguiram destacar, casos de Trickovski ou Trajkovski (Elmas esteve mais discreto), o setor recuado foi uma constante dor de cabeça para a equipa e para o guarda-redes Dimitrievski, sobretudo os centrais Musliu e Velkovski, que só não abriram mais passadeiras no eixo recuado porque Ristovski defendia muitas vezes mais por dentro.

Para valorizar

Não foi acaso que, no início da partida, Wijnaldum deu a Goran Pandev uma camisola da laranja com o número 122 nas costas, a assinalar o número de internacionalizações do avançado pela Macedónia do Norte. Aos 37 anos, já sem hipóteses de lutar pela passagem aos oitavos na primeira participação do país no Europeu, o capitão iria fazer o último encontro internacional depois de ficar também na história por ter marcado o primeiro golo que os macedónios conseguiram em fases finais (1-3, Áustria). Numa carreira com quase 20 anos de Serie A à exceção da época de 2014/15, onde ganhou Campeonato e Taça pelo Galatasaray, ganhou pela Lazio, em Nápoles e sobretudo no Inter, com José Mourinho, onde conseguiu mesmo sagrar-se campeão europeu na temporada de 2009/10. Não foi nunca aquele matador de 20 golos por época mas fez uma carreira fantástica e sai pela porta grande.