Enviada especial do Observador em Budapeste, Hungria

Logo depois do jogo contra a Alemanha, em que Portugal foi goleado e acabou por adiar as decisões sobre os oitavos de final do Euro 2020 para a última jornada da fase de grupos, Fernando Santos deu principalmente uma explicação para o resultado algo surpreendente no Allianz Arena: a falta de agressividade e de intensidade, ressalvando as escassas duas faltas que a Seleção fez na primeira parte. Ora, na véspera do encontro decisivo com França, o selecionador nacional explicou que esse fatores não podem ser treinados de um jogo para o outro.

“Não é ao nível do treino que se melhora essa agressividade, são parâmetros estratégicos. Só se formos fazer um treino de boxe ou um treino com os Rangers, há uns anos até se fazia isso. Jogámos no sábado, com um calor incrível, temos tido 34 e 35 graus, temos é de recuperar os jogadores. Analisámos bem o jogo, todos fizemos essa introspeção e penso que todos chegámos a uma conclusão semelhante: a matriz de Portugal não esteve no jogo com a Alemanha. Houve coisas positivas, sim, houve vontade e tal, mas uma equipa que sofre quatro golos é porque alguma coisa não está a correr bem. Todas as equipas que querem ganhar coisas têm de defender bem e atacar bem, se não fizerem ambas as coisas não vão conseguir. Temos de fazer o que fizemos em 90% dos jogos, não é mais do que isso”, atirou Fernando Santos.

“Jogar contra a Alemanha e fazer duas faltas na primeira parte? Nunca vi. É impossível”, reconhece Fernando Santos

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Sobre as diferenças entre a Alemanha e a França, o selecionador garantiu que “serão abordagens diferentes em termos estratégicos. Contra a Hungria, eles atacavam com quatro, jogam com dois na frente e com a incorporação dos laterais. Contra a Alemanha, eles jogavam com dois na frente na mesma mas só com dois médios. Sabíamos que, no mínimo, tínhamos de garantir a igualdade numérica, temos bons jogadores para isso e para não termos de ter superioridade. França terá um ataque diferente. Os médios da Alemanha raramente atacavam a profundidade. França joga com três avançados móveis, com médios que atacam bem a profundidade e, portanto, não temos a questão de na última linha haver superioridade numérica do adversário, quanto muito haverá igualdade. Se tivermos níveis de concentração e melhorarmos a intensidade e depois, quando tivermos bola, sairmos a jogar e obrigarmos o adversário a deslocar-se e a desgastar-se… Temos de fazer o que as equipas grandes fazem, atacar bem e defender bem. Só assim é que se ganham jogos”, disse o treinador da equipa portuguesa.

Sobre as possibilidades que Portugal tem para passar aos oitavos de final — e que incluem até uma derrota por dois golos contra França caso a Hungria não vença a Alemanha –, Fernando Santos recordou precisamente esse pormenor: “Esquecer a Hungria é esquecer contra quem é que jogaram no último jogo”. “Foi com França, a campeã do mundo, e o resultado foi 1-1. Isso abriu-lhes a porta do jogo com a Alemanha e ainda contam para o apuramento. Não podemos fazer contas, os jogadores sabem isso. Sabemos, obviamente, que só dependemos de nós e já sabíamos isso antes destes resultados [desta segunda-feira, dos Grupos B e C] acontecerem. Não era algo de que tivéssemos de estar à espera. Partimos para este jogo sempre na condição de dependermos de nós próprios. Sabendo isso, agora temos de fazer o nosso trabalho em campo em todas as variantes — estratégicas, mentais, de solidariedade, etc. Esperamos da França uma grande equipa, a pegarem de cima e a não darem espaços, a jogarem muito concentrados. Mas dependemos de nós, isso é importante”, recordou.

“É normal que tenha de refrescar a equipa aqui ou acolá”, reconhece Fernando Santos, que diz que Portugal vence numa final com a Alemanha

Sobre as eventuais alterações que poderá fazer ao onze inicial, que foi o mesmo contra a Hungria e contra a Alemanha, o selecionador nacional garantiu que “a questão não passa por aí”. “Mas com o cansaço natural, o calor — é preciso perceber que este Campeonato da Europa teve paragens a meio do jogo, até a própria organização percebe que não está a ser fácil, estamos a treinar à tarde para poupar os jogadores ao desgaste –, claro que vamos tentando perceber o estado dos jogadores. Mas há uma questão fundamental, que é o estado mental. Hoje de manhã tentei ir dar uma corrida mas estava um calor monumental e não fui. Agora, se estivesse lá o meu filho, claro que não queria saber do calor e ia logo”, indicou, revelando ainda que Nuno Mendes, que está a recuperar de uma mialgia muscular e já foi baixa contra a Alemanha, ainda não está apto para defrontar França. “Não treina há sete dias, está fora de questão”, explicou.

Por fim, Fernando Santos revelou que a base da preparação da Seleção para esta partida foram os dois jogos mais recentes contra França, a contar para a fase de grupos da Liga das Nações, em outubro e novembro do ano passado. “Foi mostrar-lhes isso, dizer o que tínhamos de fazer. No jogo em Portugal, o posicionamento não foi adequado. Mas, em termos do fundamental para estes jogos — o compromisso com o jogo a todos os níveis –, Portugal esteve bem nos dois jogos. Desde que Portugal esteja no seu nível normal, tem tudo para jogar com França. Ao contrário de 2016 [na final do Europeu], em que França entrou um bocadinho a achar que ‘pronto, são os portugueses’, nestes últimos dois jogos já não foi isso”, terminou o selecionador nacional.