Depois de ter tentado contactar sem sucesso o padre Anastácio Alves, investigado por abuso sexual no Funchal, a Igreja decidiu tornar público esta quarta-feira que o Papa Francisco aceitou a sua dispensa do sacerdócio. O pedido tinha sido feito pelo próprio, tal como o Observador noticiou em março, e agora foi confirmado pelo Vaticano. O Observador sabe que a PJ quer que o Ministério Público o acuse.

No comunicado publicado online, a diocese do Funchal, na Madeira, explica que “não sendo possível contactá-lo”, foi instruída pela Congregação da Doutrina da Fé para tornar esta decisão pública. “Como é do conhecimento público, o Padre José Anastácio Gouveia Alves pediu ao Santo Padre a dispensa das obrigações inerentes à Sagrada Ordenação, inclusive do celibato sacerdotal. O Papa Francisco acedeu ao pedido do referido sacerdote”, lê-se no comunicado.

O padre Anastácio Alves, tal como o Observador contou numa grande investigação sobre abuso sexual na Igreja, já tinha sido investigado há mais de 15 anos por abuso sexual. Foram duas as crianças que se queixaram. Mas os dois casos acabaram arquivados e o padre foi apenas colocado noutra diocese.

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Em 2018, já ao serviço de uma comunidade portuguesa em Paris, o padre regressaria ao Funchal de férias. E terá sido por essa altura que terá abusado de uma criança, filha de uma família próxima. A queixa acabou por chegar às autoridades através da Comissão de Proteção de Menores, alertada pela escola que estranhou o comportamento da criança. Antes tinha sido denunciada por carta anónima ao bispo, que não apresentou queixa às autoridades. Optou antes por pedir pessoalmente ao padre Anastácio Alves que abandonasse as suas funções, instaurando uma investigação canónica para apurar o que se passou — cujo resultado nunca se soube.

O sacerdote acatou a ordem e despediu-se da paróquia de Paris, em junho de 2018, com uma carta pública publicada online em que não deu qualquer pista sobre os verdadeiros motivos do afastamento.

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Ao que o Observador apurou junto de fonte da PJ, os dois casos ocorridos há 15 anos, porém, estavam prescritos, mas a Polícia Judiciária investigou este último e entregou já este ano de 2021 um relatório final ao Ministério Público onde entende que ele deve ser acusado. No entanto, para já, ainda não haverá decisão do Ministério Público, responsável por acusar o padre ou arquivar o processo.

De qualquer das formas, ninguém sabe do paradeiro do padre, que pediu a dispensa do sacerdócio por escrito, numa altura em que a Polícia Judiciária estava a concluir a investigação.

O caso do padre Anastácio Alves veio a público em setembro de 2018, quando o Diário de Notícias da Madeira noticiou que o então bispo do Funchal, António Carrilho, decidira afastar o sacerdote das funções que desempenhava numa paróquia de emigrantes portugueses em Paris, França, na sequência de uma suspeita de abuso sexual de menores. Na altura, o jornal madeirense lembrava que Anastácio Alves já fora constituído arguido em 2005 por suspeita de abuso sexual de menores, num processo que acabara arquivado.

Em fevereiro de 2019, no primeiro artigo de uma série de reportagens de investigação sobre os abusos sexuais de menores na Igreja em Portugal, o Observador revelou os detalhes dos dois casos em que Anastácio Alves havia sido implicado em 2005 e 2007, bem como os pormenores da nova denúncia que chegou à diocese do Funchal em 2018.

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