A União das Misericórdias Portuguesas deixou esta quarta-feira um desafio ao país para uma mudança nas respostas aos mais idosos, defendendo um modelo centrado no apoio domiciliário, e avisou que se nada for feito “ser velho vai ser muito mau“.

Em declarações à agência Lusa, no final da primeira de um ciclo de conferências sobre o futuro do envelhecimento e para apresentar o estudo “Envelhecimento: respostas seniores do futuro — um modelo de respostas especializadas integradas“, o vice-presidente da UMP, Manuel Caldas de Almeida, disse que em causa está “um desafio da União das Misericórdias para o país”.

Caldas de Almeida salientou que as atuais respostas para as pessoas idosas estão “completamente desadequadas” em relação às necessidades do país e que isso se tornou ainda mais visível durante a pandemia de Covid-19, razão pela qual a UMP quis “dar um murro no estômago” no país para perceber que é preciso acordar e pensar tudo aquilo que é feito.

De acordo com o vice-presidente da UMP, a proposta é a de um modelo centrado nos serviços domiciliários, capaz de dar resposta às várias necessidades que as pessoas possam ter, e uns “lares totalmente diferentes“, nomeadamente com cuidados de saúde, o que esta quarta-feira não acontece.

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Nós queremos dentro de seis meses ter experiências piloto já baseadas neste trabalho que apresentámos agora“, revelou, acrescentando que os partidos vão ser desafiados a juntarem-se neste projeto para desenharem um modelo financeiro e que espera no final de setembro apresentar os projetos-piloto ao Governo.

Nesse sentido, defendeu que o financiamento das respostas de futuro tem de ser encarado “transgovernamentalmente”, ou seja, um compromisso do atual governo com quem for governo de futuro para encontrar uma solução financeira para as mudanças necessárias.

Caldas de Almeida foi perentório em afirmar que esta mudança de paradigma tem de ser feita e avisou que se nada for feito o que aconteceu nos lares durante a pandemia vai voltar a acontecer e em pior escala. “Nós temos de fazer isto e o desafio que vamos fazer a este Governo e aos outros é que quem não o fizer vai ter de assumir responsabilidades muito graves porque se isto não for feito daqui a 10 anos ser velho em Portugal vai ser muito mau”, sublinhou. Acrescentou que “ser velho em Portugal vai ser pobre e não ter recursos e não ter cuidados adequados“.

O responsável frisou que as propostas agora apresentadas, tanto para a conceção de lar como para o apoio domiciliário, não estão fechadas e que espera contributos tanto da sociedade civil como de outras organizações, mas deixou a garantia de que não se vai esperar eternamente para fechar o documento. “Quando o documento estiver fechado, quem não se responsabilizar em o executar vai ter de se responsabilizar pelas consequências”, apontou.

Caldas de Almeida salientou que as necessidades na área do envelhecimento “só vão crescer”, enquanto a capacidade financeira “só vai diminuir”, razão pela qual é preciso ser inovador e ser capaz de montar sistemas de triagem para aplicar o dinheiro “naquilo que é realmente bom para as pessoas“. Além da apresentação desta terça-feira a UMP vai organizar outras conferências pelo país, juntando autarcas e academia.