Enviada especial do Observador em Budapeste, Hungria

Com encontro marcado com a Bélgica no próximo domingo, num jogo a contar para os oitavos de final do Euro 2020 que obriga a uma deslocação até Sevilha, a Seleção Nacional decidiu riscar os planos iniciais que passavam por manter o quartel-general em Budapeste e regressar à base. Já a partir da próxima segunda-feira, caso Portugal siga para os quartos de final, a comitiva portuguesa volta para a Cidade do Futebol e prepara os restantes encontros a partir de Oeiras.

Num dia marcado por essa decisão, Fernando Santos repetiu a conversa informal que havia tido com os jornalistas portugueses que estão na Hungria no passado domingo, depois da derrota com a Alemanha, e voltou esta quinta-feira a conversar de forma mais natural. A antevisão à partida com a Bélgica foi um dos temas mais óbvios, com o selecionador nacional a revelar que já analisou as três partidas que os belgas fizeram na fase de grupos, mas os jogos contra Alemanha e França ainda mereceram várias reflexões — principalmente no que toca à diferente de atitude da Seleção entre um e outro.

Se eliminar a Bélgica, Portugal já não regressa a Budapeste e vai preparar o resto do Europeu a partir da Cidade do Futebol

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O treinador da equipa portuguesa voltou a sublinhar que faltou “intensidade” contra os alemães, que a Seleção melhorou principalmente nesse capítulo contra os franceses, deixou a indicação de que Danilo, que foi substituído ao intervalo do jogo contra França depois do choque com Lloris, está bem, e ainda manteve a convicção de que Portugal pode ser novamente campeão da Europa. Afinal, no sábado de manhã, as malas da comitiva seguem diretamente para a Cidade do Futebol e não para Sevilha — porque existe essa confiança de que o apuramento para os quartos de final vai ser alcançado e a equipa vai mesmo trabalhar em Oeiras.

“Mantenho a mesma convicção. Senão levava as malas para Sevilha e, se as coisas não corressem bem, ia logo para casa. Espero só ir para casa daqui a um tempo. A convicção é a mesma”, atirou o selecionador nacional na improvisada sala de imprensa do complexo desportivo do Vasas SC, realizando depois uma breve análise à seleção da Bélgica. “Desde logo, têm um conhecimento mútuo muito grande. É uma equipa que joga junta há muito tempo, são jogadores que, em campo, fazem o jogo fluir de forma natural. A forma como a equipa se compensa, quer no momento defensivo como ofensivo, a forma como a equipa se desenvolve, aqueles momentos de definição final no ataque, o momento certo. Quando se conhecem bem, sabem que aquele jogador sai bem para a esquerda ou entra bem ou faz isto, portanto, o passe já é feito sem pensar, não é preciso pensar, aquilo entra de forma automática. Quando as equipas não têm isso, se calhar têm mais problemas de definição. Essa é uma das armas deles, seguramente”, começou por dizer.

Depois do grupo, antes da Bélgica: o que melhorou e o que ainda tem de melhorar a Seleção para ir mais longe no Europeu

Num prisma mais tático, Fernando Santos revelou o que viu quando assistiu às partidas da Bélgica na fase de grupos. “Faz alguma diferença quando jogam em 3x4x3, e na projeção do ataque com cinco à frente, ou em 3x4x1x2, com um jogador que se movimenta muito naquele espaço interior. Pode ser o De Bruyne, pode ser o Hazard, e isso vai obrigar-nos a ter uma atenção diferente e importante porque aquele fator ali do jogo pode ser decisivo. É uma equipa que gosta muito de sair a jogar, sair a jogar, sair a jogar… E também, na minha perspetiva e mesmo não parecendo, procura muitas vezes atacar a profundidade, com o Lukaku ou até com o Meunier à direita. O Hazard quando está em campo também procura o espaço, como o Mertens. É um equipa que tem argumentos fortes, por alguma coisa estão no primeiro lugar do ranking da FIFA. Mas também têm as suas fragilidades e no jogo com a Dinamarca, principalmente, deu para ver isso”, acrescentou.

Sobre a possibilidade de Cristiano Ronaldo ser mais pressionado ou massacrado pelas defesas adversárias, o selecionador garantiu não ter quaisquer receios desse género. “Não temo nada com o Ronaldo. É o Ronaldo, sempre foi. Tem uma disponibilidade muito grande para servir a Seleção. Está sempre a procurar fazer aquilo que faz bem em campo, que é fazer golos. Nem sempre consegue mas tenta sempre e faz por isso. Sempre mostrou o compromisso que tem com a equipa. Não me preocupo individualmente com essas questões”, disse Fernando Santos, que terminou com a ideia de que as eliminatórias são para ganhar.

Tudo isto que vemos há tantos anos, senhoras e senhores, só tem um nome: história (a crónica do Portugal-França)

“Esta competição é muito dura. É uma prova distinta de todas as outras. Entrámos numa fase, o Scolari… Não gosto da palavra em si, porque é mata-mata e eu sou pela vida, não sou pela morte, mas a expressão é essa mesmo. Como dizia um presidente que eu tive há muitos anos, agora são finais e as finais não se jogam, ganham-se. Fiquei com aquilo sempre gravado. Nestas coisas, é sempre para ganhar e é isso que temos de procurar fazer. Mas, para ganhar, temos de jogar bem, principalmente a este nível. Jogar bem é defender bem, atacar bem, estar bem nas transições, nas bolas paradas, o adversários não fazer golo e nós fazermos golo. Para mim, isso é jogar bem”, concluiu.

A Seleção Nacional treinou esta quinta-feira, depois da partida contra França onde acabou por carimbar o apuramento para os oitavos de final do Euro 2020, e os jogadores titulares — incluindo Rui Patrício — fizeram principalmente trabalho de recuperação nas bicicletas colocadas junto ao relvado. Os suplentes realizaram exercícios com bola e a grande novidade foi Nuno Mendes, que voltou a trabalhar totalmente integrado depois de ter feito treino condicionado ao longo de toda a semana. Danilo, que foi substituído ao intervalo contra os franceses depois do choque violento com Lloris que deu o primeiro penálti, e Nélson Semedo, que saiu durante a segunda parte devido a fadiga muscular, estiveram ambos na sessão de treino e nas tais bicicletas. Nos 15 minutos abertos à comunicação social, Renato Sanches acabou por não estar no relvado.