O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, e o homólogo alemão, Heiko Maas, apelaram esta quinta-feira em Berlim a um esforço redobrado para combater o ressurgimento do antissemitismo, num momento em que desaparecem as últimas testemunhas do Holocausto.

Naquela que foi a primeira viagem à Alemanha, o secretário de Estado norte-americano anunciou, juntamente com o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, o lançamento de uma iniciativa para investigar formas “inovadoras” para ensinar o que foi o genocídio de seis milhões de judeus, homossexuais, ciganos e políticos opositores pelos nazis do Terceiro Reich.

Blinken, que é genro de um sobrevivente dos campos de concentração de Auschwitz e Dachau, destacou que o Holocausto foi uma “descida gradual à obscuridade” possibilitada por “inúmeras medidas individuais destinadas a desumanizar as pessoas”.

É especialmente urgente” compreender isso “à medida que os sobreviventes morrem e aqueles que negam o Holocausto ficam mais barulhentos e encontram novas maneiras insidiosas de espalhar as suas mentiras”, insistiu Blinken, no segundo dia de visita à Alemanha.

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Os dois chefes da diplomacia visitaram o Memorial do Holocausto, perto do Portão de Brandemburgo, em Berlim, onde foram aguardados por uma sobrevivente do Holocausto, Margot Friedlander, de 99 anos. Esta sobrevivente, que viu a sua mãe e o seu irmão serem assassinados em Auschwitz, é muito conhecida na Alemanha, embora viva em Nova Iorque desde o pós-guerra, e continua a testemunhar sobre o Holocausto perante as gerações mais novas

Antes de ser deportada em 1943, a mãe deixou-lhe um colar de âmbar e uma mensagem: “Tenta viver a tua vida” (tradução livre), título que ela deu, muito mais tarde, à sua autobiografia. “Fez um trabalho incrível nos seus primeiros 100 anos. Vamos esperar até aos próximos 100 para ver o que vai fazer agora“, disse Blinken a Friedlander.

“A nossa força reside no facto de assumirmos o peso de uma responsabilidade histórica sem restrição. A nossa força está na união de forças na procura da melhor maneira de seguir em frente”, sublinhou, por seu lado, o ministro alemão, numa altura em que cresce a preocupação com o aumento do antissemitismo na Alemanha.

Uma tentativa de ataque a uma sinagoga em Halle, na antiga República Democrática Alemã, em outubro de 2019, deixou o país em estado de choque. O autor, um extremista de direita já condenado a prisão perpétua, matou duas pessoas a tiro, mas não conseguiu entrar no edifício religioso.

Recentemente, manifestações em várias cidades alemãs devido à última escalada de violência entre Israel e os palestinianos foram também palco de discursos antissemitas, fortemente condenados pelas autoridades. Os membros do Bundestag (parlamento) deveriam aprovar um projeto de lei que estabelece que a nacionalidade alemã será recusada a qualquer candidato culpado de um ato antissemita.

O Memorial do Holocausto, inaugurado em 2005, é uma coleção de 2.710 estrelas de betão, de diferentes tamanhos, em memórias do seis milhões de judeus na Europa mortos pelos nazis.