Três pódios consecutivos são sempre o melhor cartão de visita para qualquer piloto de MotoGP a propósito do seu momento mas o caminho para alcançar esses resultados tem ainda maior peso no caso de Miguel Oliveira. A forma como subiu vários lugares com uma partida canhão em Itália, a maneira como conseguiu chegar à frente sem perder o foco descendo ao segundo lugar antes de retomar a liderança na Catalunha, a estratégia como foi pensando a forma de chegar à segunda posição na Alemanha. O português que tem a alcunha de Einstein voltou a dar verdadeiras lições de como encarar uma corrida num contexto específico atendendo à capacidade da moto, às velocidades dos adversários, às condições da pista e ao desgaste do pneus. E a KTM rendeu-se mais ao piloto.

“O Miguel é suave como a seda – quando ele perseguia o Marc [vencedor do último GP, na Alemanha], estava muito intenso e sem cometer erros. Nunca vimos uma KTM tão bonita na TV e ele tem aparecido muito na TV nas últimas três corridas. Ele coloca a moto onde quer e parece tão estável. Não é porque reinventámos a roda, é puramente o piloto e seu talento. O que é bom no Miguel é a forma como ele monta as coisas, como ele faz perguntas, como ele quer entender o que está a acontecer com a parte eletrónica e também com o chassis. Tudo isso dá vantagem”, destacou Paul Trevathan, chefe dos mecânicos da KTM, à revista MotoSport.

“Sempre ouvimos falar de grandes pilotos que entendem as coisas mais rapidamente do que outros e acredito que o Miguel tem essa capacidade. Na garagem ele é tão calmo que vocês não acreditam. Parece que tem gelo nas veias. A forma como reage na pista sob pressão é a mesma que mostra na box. É focado e calmo, quer que nós entendamos o que ele quer”, acrescentou o responsável a propósito dos 65 pontos apenas em três corridas.

O Grande Prémio dos Países Baixos não foi exceção, com o português a ficar com o segundo melhor registo na segunda sessão de treinos livres, a conseguir a passagem direta à Q2 com o oitavo melhor tempo e a garantir de novo uma saída da segunda linha da grelha de partida, com uma sexta posição depois de ter estado em terceiro. “Cada fim de semana é um desafio diferente. Tínhamos uma mota que se ajustava ao traçado de Assen mas tivemos que acertar algumas coisas. Também tivemos a chuva ontem [sexta-feira], o que nos atrasou o trabalho, mas acredito que estejamos mais ou menos lá. Às vezes, não dá para lutar por pódios e vitórias, mas estaremos no top 5. Vai ser uma corrida fisicamente dura e isso pode fazer a diferença”, disse à assessoria de imprensa.

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Mais uma vez, o português foi cerebral na forma de olhar para a corrida e para os tempos que tinham sido feitos na qualificação, com as duas Yamaha de Maverick Viñales e Fabio Quartararo a ficarem a mais de 0,6 segundos. “Estamos um pouco mais afastados dos líderes do que nas últimas corridas mas o resultado é o mesmo, pois estamos em sexto como na Alemanha. Estou um pouco mais afastado do que gostaria mas temos uma ideia do que queremos para a corrida”, frisou o piloto de Almada, num lançamento de corrida onde mostrou ter bem a consciência da diferença com os dois da frente mas sem considerar que isso fosse um obstáculo para novo bom resultado que pudesse diminuir ainda mais a distância para os lugares seguintes no Mundial.

Ao contrário do que aconteceu nas últimas corridas, e até ao contrário das próprias características da Catedral da Velocidade na reta da meta, Miguel Oliveira teve um mau arranque e desceu logo duas posições, perdendo a seguir mais um lugar para Joan Mir. Lá na frente, Pecco Bagnaia colocou-se na frente de Quartarao, Nakagami disparou para as posições de pódio, Maverick Viñales caiu para quarto e Johann Zarco, alargando trajetória, ficou no quinto lugar. A primeira volta terminava com posições trocadas mas a corrida tinha apenas começado.

Aproveitando um incidente entre Aleix Espargaró e Zarco, o português superou o espanhol e passou para oitavo, depois viu uma ligeira quebra de Jack Miller e saltou para sétimo, sempre na roda de Joan Mir. Lá na frente, o duelo fantástico entre Bagnaia e Quartararo (com a Yamaha a ganhar quase sempre tempo durante a volta e a Ducati a disparar sempre na reta) não permitia que a diferença para os restantes aumentasse muito, ao passo que um pouco mais atrás Marc Márquez já tinha ganho dez lugares, ocupando o décimo posto. A partir do momento em que Quartararo saltou para a liderança disparou na frente, com Bagnaia a travar o “comboio” que se seguia e que acabava em Miguel Oliveira, tendo ainda Nakagami, Viñales, Zarco e Joan Mir.

Aquilo que poderia ser uma corrida de regresso de Bagnaia tornou-se um pesadelo, o italiano baixou para oitavo após uma long lap de penalização e Nakagami começou também a ter evidentes problemas. Contas feitas, Miguel Oliveira já estava na quinta posição, a ganhar tempo no primeiro setor para Joan Mir e a perder no segundo, até começar a ter pela frente Johann Zarco, com uma moto mais instável mas capaz de “travar” o português. Ainda assim, e mais uma vez, o piloto da KTM foi exímio em corrida: sem falhas, a perceber os momentos da prova e quem tinha atrás e na frente, a apontar para o top 5 e a conseguiu mais uma vez cumprir o seu objetivo, naquele que foi o melhor resultado de sempre da KTM num Grande Prémio dos Países Baixos em Assen.