Os resultados da segunda volta das eleições regionais de França são “uma deceção para a maioria presidencial”, admitiu Stanislas Guerini, líder do partido do Presidente Emanuel Macron, que não conseguiu conquistar nenhuma região. O partido do Presidente francês, o República em Marcha, criado em 2017 sem raízes territoriais, já tinha sofrido um forte revés na primeira volta das eleições, realizada no domingo passado, e não conseguiu vencer em nenhuma das 13 regiões do país.

Na segunda volta das eleições, que decorreu hoje, a abstenção foi a “grande vencedora”, já que atingiu um nível recorde de 66%, de acordo com várias estimativas dos institutos de sondagem.

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As mesas de voto fecharam às 20h locais (19h em Lisboa) e a projeção do Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública) para as estações de televisão TF1 e LCI calculou uma abstenção de 66%. Em 2015, a abstenção na segunda volta das eleições regionais foi de 41,6%, em 2010 foi de 48,8% e em 2004 foi de 44,3%.

As estimativas de hoje confirmam a falta de interesse demonstrada na primeira volta do escrutínio, realizada no último domingo, em que a abstenção atingiu 66,7% do eleitorado. Este foi o registo de abstenção mais elevado da Quinta República, estabelecida em 1958, com exceção do referendo em 2000, que reduziu o mandato presidencial do chefe de Estado francês de sete para cinco anos e no qual 69,81% dos cidadãos não votaram.

Tal como o partido Frente Nacional, de Marine Le Pen, o República em Marcha sofre de falta de apoio regional, ao contrário da direita e da esquerda moderada e até da extrema esquerda e dos ecologistas. Este resultado deverá levar a que os partidos que conseguiram melhores votações nas regionais exijam uma reorganização do cenário de preparação para as próximas presidenciais, em 2022, cuja final se estima seja disputada por Macron e Le Pen.

“Agora toda a gente já entendeu que a eleição presidencial vai ser uma corrida a três”, disse Xavier Bertrand, ex-ministro republicano e vencedor na região de Hauts-de-France (Norte), que já tinha assumido anteriormente ser candidato a Presidente em 2022.

A vencedora da região de Ile-de-France, Valérie Pécresse, e o da região de Auvergne-Rhône-Alpes (centro), Laurent Wauquiez, também se vão reposicionar, ao contrário do que se estima que aconteça com a esquerda. Apesar de ter conquistado várias regiões, com alianças com ambientalistas, socialistas e com a extrema esquerda, nenhum dos eleitos de hoje está na fila para concorrer às presidenciais e os líderes dos partidos não conseguem chegar a acordo sobre uma candidatura única.

“Este ressurgimento da divisão entre esquerda e direita deve, no entanto, ser analisado com cautela e não deve ser reproduzido para o duelo Macron/Le Pen, já que esta polarização é tradicional ao nível das instituições locais, mas não se traduz no nível nacional”, alertou hoje o presidente do instituto de sondagens PollingVox, Jérôme Sainte-Marie.

De acordo com o Le Figaro, a direita afirma-se como principal força política nestas eleições regionais, reunindo 38% dos votos, considerando também as vitórias de Xavier Bertrand em Hauts-de-France e de Valérie Pécresse em Ile-de-France. Os partidos de Marine Le Pen e do atual presidente francês, Emmanuel Macron, foram os grandes perdedores da noite eleitoral em que ficou notória a opção dos franceses pela estabilidade, ainda que a taxa de abstenção tenha subido para 66% no domingo. O El País acrescenta que o resultado impulsiona uma possível candidatura dos líderes conservadores contra Macron nas eleições presidenciais de 2022.