As nuvens de Júpiter têm uma concentração de água suficiente para albergar vida para que se desenvolvam alguns organismos, de acordo com um estudo divulgado esta segunda-feira por astrónomos da Universidade de Belfast. Em sentido inverso está Vénus: nas nuvens de um dos planetas mais próximos da Terra, a vida seria impossível, contrariando alguns trabalhos anteriores que davam como possível esse cenário.

A descoberta em Júpiter é “inesperada e emocionante”, de acordo com John E. Hallsworth um dos coautores do estudo, segundo o El Mundo. No entanto, o especialista ressalva que é difícil que haja vida microbiana no planeta, uma vez que não existe nem a “temperatura adequada”, nem estão presentes “os nutrientes adequados” para que tal aconteça. Ouvida pelo mesmo jornal, a astrónoma María Paz Zorzano coincide com este ponto de vista: “Júpiter tem um ambiente hostil para a vida por outras razões”. A falta de carbono, hidrogénio, fósforo e a falta de radiação estarão entre os motivos que justificam o ambiente inóspito do planeta.

Ainda assim, o astrónomo Jesús Martínez-Frías destaca ao El Mundo a importância de Júpiter para estudar a origem e a emergência da vida: “Até ao momento é o único que terá possuído os substratos minerais e rochosos, bem como os processos geológicos, que contribuíram para as interações físico-químicas que geraram o passo do abiótico para o biótico” — e que deu origem à vida.

Quanto a Vénus, os resultados dececionou a equipa de cientistas: “A nossa investigação demonstra que a água existente nas nuvens de ácido sulfúrico é insuficiente para albergar vida ativa”, assinalou John E. Hallsworth. O nível de água é, inclusive, cem vezes mais baixo do que o necessário para o desenvolvimento de organismos. Este resultado vem contrariar as expectativas iniciais dos astrónomos, que, depois de terem encontrado fosfina na atmosfera do planeta (o gás que produzem os seres vivos na Terra) pensavam ser possível haver (ou ter havido) vida em Vénus.

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Sinais de vida em Vénus? Descoberta fosfina, gás produzido por microorganismos, na atmosfera do planeta

Apesar de a hipótese de haver vida estar praticamente descartada, Vénus continua a ser um dos principais alvos de interesse dos astrónomos. Nos próximos anos, uma nave da Agência Especial Europeia e duas da NASA vão explorar o planeta, o que servirá para entender melhor “a sua atmosfera e validar os modelos químicos e os métodos de deteção remota”, de acordo com María Paz Zorzano, que acrescenta que é importante “explorar os ambientes habitáveis e os mais extremos”, como o de Vénus.

Sobre a hipótese de ser detetada vida fora da Terra, a investigadora considera que os focos devem ser “Marte e os satélites gelados como Europa”, uma das luas de Júpiter.