É Sommer e não “summer”, como a estação quente, mas é esta última palavra que traz escrita nas suas luvas, em castelhano: Verano. Yann Sommer, guarda-redes da seleção da Suíça, é fluente em alemão, suíço, italiano, francês e ainda na língua de Cervantes, pelo que deverá ser essa a justificação para a inscrição no equipamento que traz nas mãos. E foi precisamente já no verão que Sommer voou para o sonho, frente à França, quando defendeu com a mão esquerda a grande penalidade marcada por Mbappé, apurando o seu país para os quartos de final do Euro 2020, algo que não acontecia em grandes competições há quase 70 anos.

O atual guarda-redes do Borussia Mönchengladbach – muitas vezes enverga a braçadeira de capitão –, ingressou em 2003 nas camadas jovens do Basileia e logo aos 17 anos chegou por empréstimo à equipa principal do FC Vaduz, clube do Liechtenstein que alinha no futebol suíço. Depois de uma subida de divisão e jogos nas competições europeias, Sommer foi chamado à casa mãe do Basileia, aos 20 anos, para disputar alguns jogos devido à falta de guarda-redes. Depois de um empréstimo ao Grasshopper em 2009, agarrou a titularidade do Basileia em 2011/2012, sendo inclusivamente chamado à seleção para a estreia a 30 de maio de 2012.

Depois de quatro Campeonatos e duas Taças da Suíça no Basileia, Sommer foi contratado então pelo Borussia Mönchengladbach em 2014, ficando imediatamente com a titularidade da baliza do clube alemão. Logo na primeira época, ajudou o clube a terminar a Bundesliga no terceiro lugar e a chegar à Liga dos Campeões. No ano seguinte a equipa fica em quarto e desde então que o clube tem realizado provas tranquilas.

A responsabilidade era grande, pois Sommer chegava ao clube para substituir Marc-Andre ter Stegen, que tinha saído para o Barcelona, que não só era bom entre os postes como excelente a jogar com os pés. O suíço não fica nada atrás, nem nos reflexos, nem no jogo jogado com bola, de Ter Stegen, guarda-redes que Yann Sommer elogia: “Se olharmos para a sua capacidade de criar jogo, acredito que é o melhor a jogar na nossa posição”.

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Já com 229 jogos de Bundesliga, onde conseguiu manter a baliza fechada para o adversário mais de 60 vezes, o guardião suíço foi grande destaque na época de 2019/2020, sendo escolhido para a equipa do ano da Bundesliga à frente de Gulacsi, do RB Leipzig, ou do próprio Manuel Neuer, do Bayern Munique e capitão da seleção alemã, já eliminada do Euro 2020 pela Inglaterra.

Voltando ao Europeu e ao voo para o sonho, esta é a quarta grande competição de Sommer ao serviço do seu país, depois dos Mundiais de 2014 e 2018 e o Europeu de 2016. Soma já 65 jogos pela Suíça, o que o torna o guarda-redes suíço mais internacional, ultrapassando os 61 jogos de Diego Benaglio, jogador que passou pelo Nacional da Madeira entre 2005 e 2008.

Mas não foi só por colocar a Suíça nos quartos de final de uma grande competição desde o Mundial de 1954. É que já na grande competição, Sommer abandonou a concentração alguns dias, para conhecer a filha acabada de nascer. Mais um capítulo para o sonho de Yann Sommer, que entrou no jogo inaugural no grupo A contra o País de Gales, na cidade de Baku, sem saber se a filha poderia nascer naquele momento.

Pode dizer-se até que é especialista em penáltis, pelo menos ao serviço da seleção, visto que em oito penáltis que teve pela frente defendeu metade. Quebrou até uma senda do espanhol Sergio Ramos, durante a Liga das Nações, que trazia uma bagagem de 25 penáltis consecutivos a colocar a bola na baliza. “É muito ágil e move-se bem em cima da linha”, referiu Philippe Senderos, antigo internacional suíço, ao jornal espanhol El País, acrescentando: “Não é o mais alto, mas a sua segurança e jogo com os pés dão confiança. Se bateu o recorde de presenças como guarda-redes na seleção, por alguma coisa é”.

Os responsáveis da equipa suíça, então, adoram Sommer. E com razão. Segundo Pierluigi Tami, diretor desportivo da equipa helvética, ter o guarda-redes na baliza “é como levar um abrigo em pleno inverno que te aquece o coração”. “É uma pessoa tranquila e segura. Destaca-se pela mentalidade e pela sua frieza em lidar com a pressão e as emoções”, frisa alguém que o conhece bem: Patrick Foletti, treinador de guarda-redes da Suíça.

E esta frieza, de onde vem? Sommer explica: “Durante anos tenho contado com o apoio mental de um treinador me dá tarefas para poder focar-me e no primeiro jogo de um Euro ou de um Mundial”. E, já agora, diz também de onde vem a habilidade a jogar com os pés: “Quando era novo, estava sempre no campo de futebol. É engraçado, mas nunca ia à baliza. Queria marcar golos. Foi durante um ano ou dois o terceiro guarda-redes do Basileia e jogava regularmente como lateral direito, médio direito ou médio centro nos treinos. Aprendi imenso com isso, de jogar contra jogadores como Shaqiri e outros. Aprendi muito sobre como jogar com os pés”.

Yann Sommer defende o penálti de Mbappé e apura a Suíça para os quartos de final do Euro 2020.

“Yann Sommer é um dos guarda-redes mais subvalorizados na Europa. Não é o maior mas consegue jogar futebol. Não são muitos os guarda-redes que o conseguem fazer”, disse um dia o dinamarquês Peter Schmeichel, alguém que percebe algumas coisas sobre a posição de guarda-redes.