O ministro do Ambiente e Ação Climática considera que a lei europeia do clima é um caminho sem recuo, considerando que nenhum país, independentemente do seu governo, estará disposto a perder fundos europeus por incumprimento de metas.

João Pedro Matos Fernandes, que vai assinar esta quarta-feira o texto da lei adotada pelo Conselho da União Europeia, disse em entrevista à agência Lusa que os objetivos de neutralidade carbónica ainda vão ser alvo de “discussões muito vivas, porque o compromisso é este e não pode recuar”.

“A lei do clima deixou de ser uma vontade e passou a ser uma obrigação”, disse, reconhecendo que “os países tenham olhares diferentes sobre a forma como se cumpre este compromisso” de reduzir as emissões poluentes europeias em 55 por cento até 2030 (relativamente aos níveis de 1990) com uma meta intermediária em 2040 e o objetivo final de neutralidade carbónica em 2050.

Embora admita que é “complexo fazer projeções a dez anos”, Matos Fernandes salientou que “a meta não é negociável e é obrigatória para todos os países”, no último dia do semestre de presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.

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“Ninguém está interessado em perder fundos comunitários por não ter atingido os seus objetivos”, notou, independentemente de os governos serem mais ou menos progressistas em matéria ambiental.

Quando começámos a discutir a lei do clima tínhamos uma Europa que parecia estar a velocidades muito diferentes, mas acabámos por conseguir aprovar no Conselho todo este pacote com apenas uma abstenção da Bulgária. Esta lei é manifestamente melhor do que aquela que saiu do próprio Conselho”, considerou.

Adotada a lei, falta agora a sua regulamentação e Matos Fernandes disse que haverá “desejavelmente já em julho uma proposta da Comissão (Europeia)”, incluindo o novo regime de licenças de emissão, do sistema de leilões e fixação de preços do carbono.

“Temos muito pouco tempo. Estamos em meados de 2021 e eu direi que seria magnífico nós conseguirmos aprovar todo o pacote durante a próxima presidência (do Conselho da União Europeia, a cargo da Eslovénia), mas não pode passar da presidência francesa, no primeiro semestre de 2022”, prevê o governante português.

Para Matos Fernandes, o texto de uma “lei chapéu extraordinariamente ambiciosa” corresponde “à escala da Europa, com consenso, mantendo as regras democráticas, não indo contra ninguém e provocando uma transição justa”, com metas que “são as necessárias e são concretizáveis”.

Recordo que, quando há cinco anos se discutiu a proposta (para o Acordo) de Paris, a proposta da Europa, na altura muito, muito discutida, foi de reduzir as emissões em 40 por cento até 2030. Manteve-se o ano, 2030, mas passados cinco anos, a proposta é reduzir em 55%”, salientou.

Quanto às críticas de que, mesmo assim, a lei europeia sofre de falta de ambição, Matos Fernandes não lhes reconhece “justiça nenhuma”.

“Viemos de 40 para 55%. Foi feita uma avaliação de impacto pela Comissão do que representariam esses 55% e o nosso mandato era muito claro. Também conheço partidos políticos que acham que devemos reduzir emissões em 65% mas que nunca deveria ter fechado a central a carvão de Sines e a refinaria de Leça da Palmeira. Não sei como conseguem fazer esta quadratura do círculo, se é que as suas figuras geométricas não são ainda mais complexas”, argumentou.

O processo de negociação mostrou que os compromissos “são possíveis quando há vontade política” e que é “essencial fixar objetivos, prazos e margens de flexibilidade”, mas Matos Fernandes reconhece que houve “um empurrão para haver acordo na primeira metade da presidência” portuguesa do Conselho da União Europeia: o regresso dos Estados Unidos ao Acordo de Paris para redução do aquecimento global até fim do século e a cimeira climática organizada pelo Presidente (norte-americano) Joe Biden em abril deste ano, que despertou a Europa para a necessidade de “manter um papel de liderança”.

Quanto aos reflexos da lei do clima europeia para Portugal, cujo parlamento debate vários projetos para uma lei climática nacional, o ministro do Ambiente e Ação Climática afirma que se o compromisso de neutralidade carbónica “já era da maior importância, neste momento não tem alternativa”.

Sendo os ciclos políticos o que são, vai ser sempre Portugal (que se comprometeu primeiro com a neutralidade carbónica) que liderou este processo para existência da lei do clima e (isso) comprometerá todos quantos vierem a ter responsabilidades políticas entre o dia de hoje e 2030″, frisou o ministro.