“Essa derrota no Mundial de 2010 está mais na minha memória mas não creio que seja um jogo tão pessoal para nós como pessoas mais velhas como tu…”, atirava entre risos Dominic Calvert Lewin, avançado do Everton que tem estado na sombra neste Campeonato da Europa, a propósito do peso histórico do confronto entre Inglaterra e Alemanha. “Da minha parte, estou apenas ansioso por ser um teste e por podermos fazer história. Imagino que existe uma grande história nestes jogos e que as pessoas pensam nisso mas nós não estamos preocupado com essa parte, é apenas mais uma partida de futebol que vamos tentar jogar para ganhar”, acrescentou.

O futebol é onze contra onze… e está a voltar para “casa”? (a crónica do Inglaterra-Alemanha)

O jogador de 24 anos, que foi campeão mundial Sub-20 em 2017, procurava quase relativizar um jogo que teria sempre um peso diferente dos demais perante a rivalidade criada ao longo do tempo, focando-se só no presente e naquilo que poderia acontecer nos oitavos do Europeu de 2021. No entanto, era impossível olhar dessa forma para o embate em Wembley. Porque houve a vitória dos ingleses após prolongamento na final do Mundial de 1966, o triunfo dos alemães também em tempo extra nos quartos do Mundial de 1970, a vitória dos germânicos nos penáltis nas meias do Europeu de 1996, a goleada da Mannschaft nos oitavos do Mundial de 2010. Muita história num total de 32 jogos, 33 agora, com 14 vitórias para a Inglaterra e 13 para a Alemanha.

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Aquilo que se viu foi exatamente isso – não era apenas mais um jogo. E a loucura em vários pontos distintos de Wembley mostrou isso mesmo, numa euforia que passou pela tribuna, pelas bancadas e até por Downing Street.

Comecemos pela tribuna. O príncipe William, que é presidente da FA (Football Association), fez-se acompanhar não só da duquesa de Cambridge, Kate Middleton, mas também do filho mais velho, o príncipe George, que fará oito anos no próximo mês e que marcou presença pela primeira vez em Wembley. O protocolo foi sempre seguido mas, no final, William acabou a festejar como se fosse mais um adepto, de braços no ar depois da vitória que valeu a qualificação para os quartos de final, onde a Inglaterra vai agora defrontar a Ucrânia em Roma.

Um pouco atrás, Ed Sheeran e David Beckham. O antigo jogador até tinha passado antes pela tribuna para cumprimentar a família real, com especial enfoque no príncipe George que fazia a estreia no mítico estádio de Londres, mas acabou a festejar a vitória com o popular cantor, vestido a rigor com a camisola dos Três Leões e festejando também de forma exuberante um triunfo carimbado no último quarto de hora do jogo.

Ainda mais ao lado, na zona da imprensa, o nível de loucura pelos golos de Sterling e Harry Kane foi ainda maior, com os antigos internacionais Gary Lineker e Rio Ferdinand, dois dos jogadores mais respeitados como comentadores depois de uma carreira com dezenas e dezenas de internacionalizações e títulos (neste caso, pelos clubes que foram representando), aos saltos e aos berros pela vitória depois do apito final em direto na BBC.

Por fim, e um pouco por todo o lado e em todas as bancadas, foi um delírio sem palavras. E as imagens da festa depois do primeiro golo de Raheem Sterling atrás da baliza onde estava Manuel Neuer resumem bem o que se passou em Wembley, com dezenas de adeptos de pé, aos saltos ou a atirarem-se para as lonas colocadas nas primeiras filas entre muitos abraços e beijos entre desconhecidos. Não, o jogo entre Inglaterra e Alemanha não era apenas mais um jogo. E a forma como o triunfo britânico foi festejado contou essa história, que teve também Boris Johnson a apoiar a equipa no número 10 de Downing Street com a promessa de que, caso a campanha dos Três Leões se mantenha e chegue às meias-finais, contará com o primeiro-ministro também em Wembley.