Cerca de uma centena de trabalhadores da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) manifestou-se esta quarta-feira junto aos Paços do Concelho da capital para exigir aumentos salariais de 90 euros para todos os trabalhadores.

Em declarações à agência Lusa, Ana Pires, do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), disse ser “inaceitável” que a mais recente proposta da empresa não abranja a totalidade dos cerca de 800 trabalhadores. “Noventa euros para todos os trabalhadores é a nossa proposta para início de negociação. Valores entre os cinco e os 20 euros não são valores sérios para que se possa negociar e aproximar”, indicou.

Ana Pires falava na Praça do Município, onde os trabalhadores da EMEL se concentraram esta quarta-feira, pela primeira vez, depois da negociação do Acordo de Empresa, empunhando tarjas e cartazes com as inscrições “Trabalhadores da EMEL em luta — Não nos bloqueiem a vida!”; “Aumentos dos salários já!” e “Aumentos de salários dignos e para todos!”. De acordo com a dirigente sindical, a empresa apresentou uma proposta a cerca de 500 trabalhadores, deixando quase 300 de fora das negociações.

Estes trabalhadores que ficam de fora do aumento dos salários são também os trabalhadores mais antigos, que têm sofrido com mais impacto aquilo que foram as troikas e afins, 10 anos de congelamento de salários”, referiu , alertando para “uma desvalorização muito sentida”, uma vez que os salários não chegam ao fim do mês.

Ana Pires recordou também que o abaixo-assinado contra uma proposta de aumento salarial de 10 euros entregue em 27 de abril não obteve resposta até ao momento. “Enviámos um abaixo-assinado — que não foi respondido — a alertar para o percurso que considerávamos que o processo negocial estava a ter, que era muito negativo. […] Os trabalhadores exigem o aumento do salário e estão disponíveis a levar a luta onde for preciso”, exclamou.

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Em abril, trabalhadores da EMEL entregaram um abaixo-assinado contra uma proposta de aumento salarial de 10 euros e apenas para quatro níveis da tabela remuneratória, considerando ser “insuficiente e desequilibrada”.

José Silva, trabalhador da EMEL, disse esta quarta-feira sentir “algum desconforto” pela situação. “Achávamos que merecíamos ser aumentados, não só pelo trabalho que desenvolvemos em prol da cidade, como também pela responsabilidade que temos ao nível das nossas funções”, observou. Segundo José Silva, todos os trabalhadores da EMEL deveriam ser reconhecidos e deveria “haver uma sensibilidade diferente” da chefia, porque estão “sempre prontos para trabalhar”.

No palanque, o vereador do PCP João Ferreira — que fez uma pausa na reunião pública da Câmara de Lisboa, a decorrer ao mesmo tempo — afirmou que as questões dos trabalhadores têm sido levadas pelos comunistas ao conhecimento do executivo liderado pelo socialista Fernando Medina. “Temos denunciado concretamente o que foram as péssimas condições que vos foram proporcionadas, aquando do desconfinamento, com a falta de condições — muitas vezes — para os fardamentos, para se equiparem para trabalhar, mas também a questão dos aumentos salariais”, realçou.

Na reunião pública da Câmara de Lisboa, a decorrer esta tarde por videoconferência, o vice-presidente da autarquia afirmou, em resposta a uma trabalhadora, que as “negociações salariais, os acordos de empresa e toda a política de gestão de recursos humanos é efetuada diretamente através do conselho de administração” da EMEL.

Ainda assim, João Paulo Saraiva referiu que a autarquia registou as revindicações dos trabalhadores da empresa municipal de mobilidade e estacionamento, dizendo que irá “analisar pormenorizadamente a situação“. A EMEL gere mais de 90 mil lugares de estacionamento tarifados na via pública.

Em abril, depois de os representantes sindicais terem proposto o aumento salarial de 90 euros, a empresa explicou à Lusa que em 2020 perdeu cerca de 30% das suas receitas devido à pandemia de Covid-19, por não ter cobrado estacionamento durante um período, mas ainda assim fez um esforço para ir a negociações. Entretanto, o município compensou com cinco milhões de euros a quebra de receitas causada pela pandemia.