“Vais defender pelo menos dois… E mostrares como és grande”
A história daqueles minutos de tensão nas grandes penalidades do jogo da Espanha frente à Suíça pode parecer resumida às novas tentativas em São Petersburgo mas começou antes. Bem antes. Aliás, ainda antes do Europeu, quando a comitiva da Roja teve um caso de infeção por Covid-19 (Busquets), um falso positivo (Diego Llorente) e um encontro particular com a Lituânia disputado por jogadores Sub-21 porque todas as escolhas de Luis Enrique andavam nessa fase a treinar à parte, sem contactos, a garantir que não existiam possibilidades de surto.
Ainda no início da concentração dos 24 jogadores (por opção técnica porque todas as equipas podiam levar 26 mas o selecionador preferiu abdicar de duas vagas por uma questão de gestão do grupo), Luis Enrique inquiriu os convocados sobre a possibilidade de treinarem ou não grandes penalidades. Disseram que sim. Com isso, no final do prolongamento com a Suíça, as escolhas foram quase automáticas, incluindo aquele que ficava de fora.
Unai Simon wins MOTM award just days after THAT own goal.
Never let your mistakes define you ???? pic.twitter.com/PS2ynnEtFr
— ESPN FC (@ESPNFC) July 2, 2021
Como os helvéticos tinham ficado reduzidos a dez ainda na segunda parte do tempo regulamentar, um espanhol ficou logo de fora. Tocou a Marcos Llorente. A partir daí, ficou tudo em aberto para os voluntários, com Sergio Busquets como primeiro e Oyarzabal a fechar por ter uma percentagem alta de concretização, como explicava a Marca. Moreno, outro especialista no Villarreal, falhou contra a Polónia na fase de grupos e por isso passou para o meio das marcações, não abriu mas fez o 2-1 importante naquela fase. Oyarzabal fechou as contas, sendo que Rodri, que entrara no final do prolongamento para isso, também falhou. A vitória fechou com 3-1, com nome Simón a fazer novamente capas em Espanha depois de meses a fio com Fernando Simón, diretor do Centro de Coordenação de Alertas de Saúde e Emergências do Ministério da Saúde, a falar sobre a evolução da pandemia.
Unai Simon enjoyed every moment of Spain's quarter-final celebration ????#EURO2020pic.twitter.com/LWlh4Hjoka
— GOAL (@goal) July 3, 2021
“Sabia que não podia falhar, por sorte entrou mesmo. No caminho entre o meio-campo e a marca passam-te muitas coisas pela cabeça e ainda por cima a bola estava longe. Tinha dito ao Unai [Simón] que ia ser o dia dele. Quando o Busi [Busquets] falhou, disse-lhe que ia defender três. Tocou-me a mim marcar o quinto penálti mas o trabalho é de todos, do [David] De Gea, do Robert [Sánchez], do treinador de guarda-redes… São coisas que se trabalham”, referiu no final do jogo Oyarzabal, avançado que foi uma das grandes figuras da Real Sociedad.
The comeback is always stronger than the setback.
Unai Simón ???????????? pic.twitter.com/gdC1QmTwmi
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À exceção de Jordi Alba, que foi a correr abraçar Luis Enrique, e entre uma ou outra lágrima de Morata, que voltou a ter um jogo mais apagado depois de ter sido decisivo contra a Croácia, todos seguiram em direção de Unai Simón, a quem o selecionador tinha referido apenas que iria travar dois penáltis no desempate, numa conversa que foi apanhada pela Deportes Cuatro pouco antes de ir para a baliza das conversões. “Foi a série de penáltis mais tranquila da minha vida porque não podia fazer nada, o que acontecesse, acontecia. Claro que se sofreu muito, como poderíamos não sofrer nos quartos de um Europeu? O que queriam, um desfile militar?”, atirou o selecionador no final de um encontro onde voltou à sala de imprensa com a camisola do Naranjito, a mascote do Mundial de 1982 organizado por Espanha. “Calma, é a mesma mas está lavada…”, disse.
Luis Enrique con una camiseta de Naranjito, no hay seleccionador mejor. pic.twitter.com/Ub47syEGt3
— Sagasta (@Sagasta_87) July 2, 2021
De acordo com alguns meios, como o El Mundo, há algo mais naquele símbolo do Naranjito, uma espécie de uma mensagem para quem achava que haveria mais um falhanço como nesse ano de 1982 em que a equipa não foi além da segunda fase. Mas o grande herói, esse, foi Unai Simón, um guarda-redes que com apenas 15 anos já gravava os seus jogos para ver o que podia corrigir e melhorar. Campeão europeu de Sub-19 e Sub-21, o jovem de 24 anos formado, criado e lançado pelos bascos do Athl. Bilbao conseguiu a sua redenção após o erro contra a Croácia, foi eleito o MVP mas admitiu que, se fosse por ele, o prémio tinha ido para outro jogador e da Suíça. “Eu teria dado o prémio de melhor em campo ao Sommer”, comentou o herói espanhol no final, que tinha na toalha uma cábula para recordar os estudos que fizera antes para onde costumavam atirar os jogadores suíços.
Unai Simon knew Yann Sommer deserved that MOTM award ???? pic.twitter.com/ZjK08IBEi2
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