As Administrações Regionais de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve já ultrapassaram as linhas vermelhas sobre a ocupação máxima recomendada para doentes Covid-19 internados em unidades de cuidados intensivos (UCI). Os hospitais de Lisboa e Vale do Tejo têm neste momento 90 doentes Covid-19 nestas unidades (o limite definido é 84) e o Algarve regista 12 internados a precisarem de maiores cuidados (o limite é 10).
Os dados foram fornecidos ao Observador esta segunda-feira pelas respetivas entidades, numa altura em que os internamentos por Covid-19 não param de aumentar em todo o país.
Em março, a Direção-Geral da Saúde, em conjunto com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, estabeleceu os limites sobre a ocupação máxima em UCI em todo o país. A linha vermelha atualmente definida a nível nacional é assim de 245 camas ocupadas. Seguem-se balizas estabelecidas por cada região do continente, como se pode ver no quadro abaixo.
Na ARS Lisboa e Vale do Tejo, o limite é atualmente ultrapassado em seis doentes. A nível de enfermaria, há ainda 305 pessoas infetadas com Covid-19 internadas.
Já no Algarve, há mais dois doentes para além da linha estabelecida. Há ainda 49 camas ocupadas em enfermaria. Os dados são relativos até às 00h00 de domingo. Ao Observador, fonte oficial da ARS Algarve adianta que o Centro Hospitalar Universitário do Algarve “poderá reforçar a sua capacidade de resposta, quer em internamentos, quer em cuidados intensivos, se a evolução da pandemia assim o exigir”.
Nas restantes regiões do país a situação não está tão crítica. Fonte oficial da ARS Norte afirma que, nesta região, “a situação continua estável, a nível de internamentos”. Em todos os hospitais do norte do país, há 71 doentes internados em enfermaria e 22 em unidades de cuidados intensivos. Como se pode ver no quadro acima, o limite definido pela Direção-Geral da Saúde é de 85 camas ocupadas para esta região.
Já a ARS Centro registava até ontem 42 doentes Covid-19 em enfermaria e 10 em UCI. Fonte oficial da entidade adianta ao Observador que, destes 10, seis “estão ventilados”. A ARS Centro explica que, até ao momento, não houve alteração no número de camas ativas em enfermaria (111) nem em UCI (31), mas admite que os níveis de capacidade podem ser alterados, consoante a evolução da pandemia. “As taxas de ocupação nas enfermarias Covid e UCI Covid nos hospitais da região são de 38% e 32% respetivamente, não tendo sido necessária qualquer transferência de doentes para fora da região”, acrescenta a fonte.
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De acordo com os últimos dados, a ARS Alentejo dá conta de 10 doentes em enfermaria (taxa de ocupação de 21,7%) e dois em situação mais grave em UCI (9,5%). Também esta entidade explica em resposta enviada ao Observador que “a capacidade de resposta será sempre ajustada” tendo em conta a situação epidemiológica.
Nas últimas 24 horas, foram hospitalizadas mais 46 pessoas a nível nacional. Há neste momento 613 doentes internados, dos quais 136 estão em cuidados intensivos. É o número mais elevado de doentes hospitalizados desde final de março.
O Observador contactou a Direção-Geral da Saúde para perceber se as linhas vermelhas para os internamentos em unidades de cuidados intensivos definidas em março vão ser revistas ou alteradas — tendo em conta fatores como o avanço da vacinação e o surgimento de novas variantes — mas não obteve resposta até ao momento.
Hospitais de Lisboa e Vale do Tejo aumentam capacidade de resposta em unidades de cuidados intensivos. Situação “inspira preocupação”
O presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid-19, João Gouveia, revela ao Observador que os hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo já se estão a prevenir para um previsível aumento da pressão nos serviços de saúde.
Para aumentar a capacidade de resposta na medicina intensiva, já foram dadas indicações aos hospitais para escalarem o número de camas. Neste momento, já temos 102 camas de medicina intensiva e temos possibilidade para chegar às 123 rapidamente”, explica João Gouveia.
O médico destaca também a importância da disponibilidade de “recursos humanos” nesta fase. Neste sentido, avisa que há “atividades programadas” — como cirurgias — que podem ser adiadas ou interrompidas, para libertar profissionais de saúde e aumentar a disponibilidade de camas. O especialista garante, no entanto, que, para já, os doentes não-Covid não estão a ser afetados por este aumento de internamentos na região da capital.
O presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid-19 admite que outro cenário possível é a transferência de infetados para outras regiões do país, tal como aconteceu no início do ano — fase mais crítica da pandemia até agora.
João Gouveia destaca também que o perfil de doentes internados mudou: “Neste momento, temos doentes mais jovens e com menos comorbilidades. No outro dia estava de urgência e tinha doentes na casa dos 21 aos 23 anos”.
Ouça aqui na íntegra as declarações do presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid-19, João Gouveia, ao Observador: