A Comissão de Trabalhadores (CT) da TAP considera que a justificação dada pela transportadora para o despedimento coletivo de 124 trabalhadores é “profundamente falaciosa”, defendendo que se trata de “um aproveitamento inaceitável” da crise que o país atravessa.

Em comunicado, a entidade revelou que esta terça-feira teve lugar “a primeira reunião de informação e negociação no âmbito do procedimento de despedimento coletivo na TAP”.

“Tratando-se de uma estreia, estranhámos que não estivesse presente um representante do Governo, principalmente porque o patrão da empresa é o Estado português” lamentou a CT, acrescentando que “os representantes da TAP presentes na reunião também não foram aqueles que têm acompanhado todo este processo desde o seu início”, o que, considera, “constitui um desprezo enorme não apenas pelos trabalhadores envolvidos, mas por todos os trabalhadores da empresa”.

“Deixámos claro que não entendemos esta necessidade de despedimento, concretamente destes 124 trabalhadores, uma vez que a situação vivida pela TAP e pelas outras companhias aéreas é contextual e passageira”, referem.

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“Assim, as projeções preconizadas pelo plano de reestruturação e fornecidas pela empresa na comunicação de intenção de despedimento coletivo, já não estão atuais, nomeadamente devido ao aumento do ritmo da vacinação. O facto é que a retoma dar-se-á mais cedo do que o previsto, tendo assim a empresa necessidade destes trabalhadores”, garantiu a CT.

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Aliás, diz a CT que “tanto é verdade que a TAP precisa destes trabalhadores, que está a chamar assistentes de bordo em férias e folgas para fazer voos, assim como está a recorrer à contratação de trabalho externo (‘outsorcing’)”, alertando ainda para “um desvio de trabalho da TAP para a PGA, potenciador de incremento de negócio da última em detrimento da primeira” o que, na opinião dos trabalhadores “não deve acontecer”.

“Finalmente perguntamos se o impacto do custo laboral destes trabalhadores é assim tão elevado, que justifique o despedimento dos mesmos”, diz a CT, apontando que “se calhar a TAP tem gastos muito mais elevados por exemplo com dez administradores” e que “se calhar com cinco fazia a festa e a poupança era suficiente para pagar os vencimentos de 124 trabalhadores durante mais uns meses até à retoma”.

Por isso, para os representantes dos trabalhadores “toda a argumentação avançada pela empresa para a justificação do despedimento coletivo, não apenas representa um aproveitamento inaceitável da situação de crise em que o país caiu em 2020, como é ainda profundamente falaciosa”, defendendo a CT que não se percebe “a relação entre os critérios definidos pela empresa e os despedimentos que pretende efetuar”.

“Ninguém percebe porque é que depois de milhares de trabalhadores que a empresa despediu ou prescindiu, uns por caducidade dos contratos, outros por medidas de adesão voluntária, como as reformas antecipadas, pré-reformas, licenças sem vencimento e rescisões por mútuo acordo, ou ainda depois da redução dos salários, quer por via de trabalho a tempo parcial, quer por via dos acordos de emergência, se torna agora tão fundamental despedir mais 124 trabalhadores”, destaca a entidade.

Durante a reunião, de acordo com a CT, “todos estes e outros argumentos foram refutados pela empresa, que se disse obrigada a implementar o plano de reestruturação com rigor e a cumprir as metas previstas pelo mesmo”.

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Por fim, diz a entidade, face à falta de respostas para várias questões, ficou marcada nova reunião para a próxima sexta-feira, tendo ainda sido pedido um encontro, “com caráter de urgência” ao ministro da Habitação e Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, ainda sem data. O processo de despedimento coletivo de 124 colaboradores iniciado em 7 de julho pela TAP abrange 35 pilotos, 28 tripulantes de cabina, 38 trabalhadores da manutenção e engenharia e 23 funcionários da sede, segundo uma mensagem enviada pela administração aos trabalhadores.

Na mensagem interna, disponibilizada, a presidente executiva (CEO) da TAP, Christine Ourmières-Widener, destacou que este número representa “uma redução de menos 94% face ao número inicial previsto e exigido pelo plano” de reestruturação da companhia, que ascendia a 2.000 trabalhadores, tendo essa redução sido conseguida através da adesão a medidas voluntárias, como acordos temporários de emergência com os sindicatos, rescisões por mútuo acordo e integrações na Portugália.

Segundo referiu, tal permitiu que “o número de trabalhadores elegível para rescisão unilateral fosse reduzido para 124″, assim distribuídos pelos principais grupos profissionais da TAP: 35 pilotos (face ao número inicial de 458), 28 tripulantes de cabina, contra os inicialmente previstos 747, 38 trabalhadores da ME [Manutenção e Engenharia] Portugal (relativamente ao número inicial de 450) e 23 trabalhadores da sede (face aos iniciais 300).