O secretário-geral das Nações Unidas avisou esta sexta-feira que um “furacão de crise humanitárias” no mundo deixou os civis em áreas de conflito a pagarem o preço mais alto, agravado por uma vaga de ataques a trabalhadores humanitários e médicos.

António Guterres disse que as necessidades humanitárias estão a ultrapassar a capacidade de resposta das Nações Unidas e de organizações de ajuda humanitária, “sobrecarregadas pela pandemia de Covid-19”.

Estamos a entrar em águas desconhecidas. A escala das necessidades humanitárias nunca foi tão grande. A ONU e os nossos parceiros estão a tentar chegar com ajuda a 160 milhões de pessoas — o número mais alto de sempre”, disse Guterres, num discurso ao Conselho de Segurança da ONU lido pela vice-secretária-geral Amina Mohammed.

O português citou a região de Tigray, na Etiópia, o Afeganistão, Iémen e a Síria como exemplos do “aumento sangrento das crises humanitárias”.

No Tigray, segundo Guterres, a ONU ouviu “relatórios fiáveis” nos últimos meses de execuções de civis, prisões e detenções arbitrárias, violência sexual contra crianças e deslocamentos forçados “em grande escala”. “No Afeganistão, ataques brutais mataram pelo menos 24 civis, incluindo cinco profissionais de saúde, durante apenas uma semana de junho”, prosseguiu.

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Após oferecer outros exemplos nas restantes regiões, Guterres instou o Conselho de Segurança a tomar medidas firmes e imediatas para apoiar as resoluções sobre proteção de civis, trabalhadores humanitários e sanitários, assim como hospitais, escolas, instalações de água e outros “espaços humanitários”.

Segundo o secretário-geral, a Organização Mundial da Saúde registou 568 incidentes este ano que afetaram a prestação de cuidados médicos em 14 zonas de conflito, causando a morte de 114 profissionais de saúde e pacientes.

Guterres pediu também o fim das práticas que “politizam a ação humanitária”, incluindo tentativas frequentes de interferir na seleção das organizações humanitárias de beneficiários e parceiros dessa ajuda, legislação de contraterrorismo que criminaliza atividades humanitárias e médicas – e, inversamente, políticos e militares que retratam essa ajuda como parte da sua agenda de contraterrorismo.