A ideia surgiu durante uma conversa de café entre amigos. Naquele dia, o grupo comentava entre si as dificuldades que sentia em explorar o tema da sexualidade noutras redes sociais, dadas as restrições. Telmo Melo, formado em Economia e a trabalhar na bolha do empreendedorismo há mais de uma década, terminou a bica com uma ideia em mente: criar a CRSex — Creative Relationships Club, a primeira rede social portuguesa sobre sexualidade, onde o sexo é discutido “sem tabus mas com respeito“.

“Os fetiches são para os depravados”, “há um horário para o sexo” ou “o prazer pertence só ao homem” são algumas das ideias feitas que a plataforma quer ajudar a desconstruir.

Ao contrário do que o nome possa sugerir, o novo serviço — cuja estreia aconteceu no início da semana — não surgiu primeiramente como mais uma aplicação de dating onde o match define o sucesso das interações. “A ideia é conversar e partilhar conhecimento sobre a sexualidade”, garante o CEO do projeto ao Observador, que faz notar como a indústria da sex tech regista um crescimento exponencial, “movimentando cerca de 30 bilhões de dólares em todo o mundo”. “Com a evolução das gerações há cada vez mais abertura para falar sobre a sexualidade. Vimos que não havia um sítio que agregasse essa informação, onde fosse partilhada de forma aberta. Temos pessoas que querem falar sobre sexualidade e temos empresas que queremos abordar o publico da forma correta”, acrescenta, justificando a criação de um clube onde o sexo é o protagonista.

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A rede social que chega ao mercado com o “objetivo de ser a grande plataforma online do conhecimento sexual e dos encontros afetivos” está assente em duas fases. Se numa primeira os potenciais utilizadores já se podem registar e encetar conversa com terceiros, na segunda fase, prevista para meados de agosto, serão lançados conteúdos para aprofundar diferentes temas. Os workshops promovidos por parceiros e a cargo de especialistas, sejam eles sexólogos, médicos ou psicólogos (algumas especificidades ainda estão em aberto), serão a próxima grande aposta. Podem ser abordados temas tão variados como a higiene íntima ou o orgasmo feminino. Além disso, outros conteúdos específicos estarão em destaque — para o mês de julho o assunto previsto é “como dar prazer a uma mulher”.

À criação de perfis — cuja validação é sempre feita por email, sendo possível determinar o objetivo da inscrição, se é para fazer amigos, adquirir conhecimento ou encetar um relacionamento, por exemplo — acresce a possibilidade de enviar convites de amizade e também a troca de informações. Mas fica o aviso: “As pessoas têm de aceitar os nossos termos e condições e há princípios que têm de ser cumpridos”. Não são permitidas fotografias com nudez ou qualquer tipo de pornografia, um controlo que é feito pela equipa de suporte (ao todo, três pessoas estão envolvidas no projeto). A isso acresce a necessária boa conduta. Comportamentos considerados machistas ou racistas também não serão tolerados.

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Existem vários níveis de subscrição: do gratuito, que permite acesso ao mural onde é possível colocar questões e interagir com outros utilizadores, às pagas, que podem ser mensais, trimestrais ou anuais (até 72 euros) e dão acesso ao chat privado — a conversa privada carece de autorização dos participantes e pode acontecer via mensagens de texto, videochamadas ou chamadas de voz. As subscrições pagas permitem ainda o acesso a conteúdos específicos. “Vão existir grupos para determinados temas, como brinquedos sexuais ou swing”, assegura Telmo Melo.

O objetivo passa também por as pessoas se poderem ajudar umas às outras. Por enquanto, os utilizadores interagem de forma tímida, havendo sempre uma ou outra exceção. O CEO esclarece que ainda é cedo para perceber quais são as dúvidas mais imediatas e repetidas, mas dá como exemplo a série “Sex Life”, da Netflix, que está a gerar burburinho e a ser muito comentada. “Estamos há cinco dias online, ainda temos muito trabalho pela frente.”

Apesar de ter arrancado há uma semana, a CRSex já conta com “centenas de pessoas inscritas” — e, ao contrário do que seria de esperar, nota-se uma boa afluência das mulheres. Ainda assim, são mais eles (70%) do que elas (30%). E se 30% dos novos inscritos têm entre os 18 e os 24 anos, 50% está entre os 25 e os 54 anos (20% estão acima dos 55 anos). Os dados são recentes e podem facilmente variar dada a novidade da plataforma. A previsão da equipa é chegar até ao final de 2021 com 10 mil subscritores no país. Em 2022 todos os olhos estão postos no mercado brasileiro.