O filme “Titane”, de Julia Ducournau, recebeu o prémio máximo do Festival de Cannes. A Palma de Ouro foi para a francesa que se tornou, este sábado, a segunda mulher a receber o galardão máximo do festival de cinema. Antes dela, apenas a neozelandesa Jane Campion recebeu esta distinção, em 1993, pelo filme “O Piano”.

Antes do anúncio oficial, na 74.ª edição do festival de cinema de Cannes, Spike Lee, presidente do júri, cometeu uma gaffe e anunciou o vencedor. Convidado por uma das apresentadoras a revelar qual iria ser o primeiro prémio da noite, Spike Lee entendeu revelar o grande vencedor ou, neste caso, a grande vencedora.

Durante o discurso de agradecimento, depois de ter recebido a Palma de Ouro das mãos da atriz Sharon Stone, a realizadora francesa recordou que assistia à entrega de prémios quando era criança.

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“Naquela época, tinha a certeza de que todos os filmes premiados deviam ser perfeitos porque estavam no palco”, disse Julia Ducournau. “Esta noite, estou no mesmo palco, mas eu sei que o meu filme não é perfeito — mas acho que nenhum filme é perfeito aos olhos de quem o fez. Pode mesmo dizer-se que o meu é monstruoso.” 

“Titane” conta a história de uma serial killer, Alexia, que tem uma placa de titânio na cabeça e que, depois de ter relações sexuais com um carro, fica grávida. A partir dai, o seu corpo transforma-se.

A realizadora francesa salientou ainda que “o mundo está a tornar-se cada vez mais fluido” e agradeceu ao júri de Cannes por abraçar a diversidade e “por deixarem os monstros entrar”.

“Drive my Car”, do japonês Ryusuke Hamaguchi, distinguido em Cannes

Uma cerimónia com dois empates

A cerimónia trouxe também dois empates. “A Hero”, do cineasta iraniano Asghar Farhadi (e que era um dos favoritos à Palma de Ouro), e “Compartment 6”, do finlandês Juho Kuosmanen, receberam ambos o Grande Prémio do Júri. Também ex-aequo ficaram “Ahed’s Knee”, de Nadav Lapid, e “Memoria”, de Apichatpong Weerasethakul, dividindo o Prémio Especial do Júri.

Caleb Landry Jones, por “Nitram”, e Renate Reinsve, por “The Worst Person in the World” receberam os prémios de melhor ator e melhor atriz.

“Drive my car”, do japonês Ryusuke Hamaguchi, era um dos grandes favoritos. Não recebeu a Palma de Ouro, mas levou para casa o Prémio para Melhor Argumento por adaptar o conto homónimo de Haruki Murakami.

Já “Annette” — que conta com Adam Driver e Marion Cotillard nos principais papéis — valeu ao francês Leos Carax ser considerado o melhor realizador desta edição de Cannes.

A Câmara de Ouro, prémio que distingue uma primeira obra, foi para “Murina”, de Antonieta Alamat, que conta a história de uma adolescente croata que se apaixona por um antigo amor da sua mãe. O filme, apresentado na Quinzena dos Realizadores, uma sessão independente realizada em paralelo com o Festival de Cannes, conta com produção executiva de Martin Scorsese.

Os premiados:

  • Palma de Ouro: “Titane”, de Julia Ducournau
  • Grande Prémio do Júri ex-aequo: “Compartment Number 6”, de Juho Kuosmanen, e “A Hero”, de Asghar Farhadi
  • Prémio de Melhor Realizador: Leos Carax por “Annette“
  • Prémio do Júri ex-aequo: “Ahed’s Knee”, de Nadav Lapid e “Memoria”, de Apichatpong Weerasethakul
  • Prémio para Melhor Argumento: “Drive My Car”, Ryusuke Hamaguchi
  • Prémio de Melhor Ator: Caleb Landry Jones em “Nitram”
  • Prémio de Melhor Atriz: Renate Reinsve em “The Worst Person in the World”
  • Câmara de Ouro para Melhor 1.ª Obra: “Musrina”, de Antoneta Alamat Kusijanovic
  • Palma de ouro para Melhor Curta-Metragem: “Tian xia wu ya”, de Yi Tang