A emissora de serviço público RTHK, de Hong Kong, proibiu os seus funcionários de se referirem à líder de Taiwan, Tsai Ing-wen, como “Presidente” ou ao seu executivo como “governo”, de acordo com as novas diretrizes editoriais.

A decisão surge num contexto de maior controlo da antiga colónia britânica por Pequim e numa altura em que as autoridades locais estão em processo de transformar a RTHK num órgão próximo à imprensa oficial chinesa, que está sujeita a uma censura restrita.

Em nota enviada na terça-feira a todos os funcionários, e citada pela agência France Presse, a administração da RTHK especificou as novas instruções editoriais relativas a Taiwan, que Pequim reclama como seu território, apesar de funcionar como uma entidade política soberana.

O memorando especifica que os funcionários agora estão proibidos de usar expressões “inadequadas”, como “Presidente de Taiwan” ou “Governo de Taiwan”, no conteúdo transmitido por rádio, televisão ou Internet.

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Terminologia inadequada como ‘país’, ‘República da China’, ‘ROC’ (…) não pode ser usada em relação a Taiwan. Em nenhuma circunstância Taiwan pode ser apresentado ou percebido como um Estado soberano”, ditou o texto.

Esta diretriz foi emitida dias depois de um político de Hong Kong do campo pró Pequim acusar a RTHK de violar a lei quando se refere a Taiwan. A RTHK recusou-se a comentar as razões para a emissão desta diretriz.

Muitos meios de comunicação internacionais têm regras editoriais internas que especificam que Taiwan não deve ser apresentado como um país, uma vez que a grande maioria das capitais não reconhece a ilha como tal. No entanto, é incomum proibir os termos “República da China”, “presidente” ou “governo”.

Alguns meios de comunicação referem-se a Taiwan como um país porque a ilha é de facto soberana, com o seu próprio governo eleito, moeda, fronteiras ou exército. Na imprensa estatal chinesa, o território é designado como a “província chinesa de Taiwan” e Tsai é referida como a “chamada governante”.

Hong Kong há muito que é considerada, devido à sua relativa autonomia face a Pequim, um bastião asiático da liberdade de imprensa e ainda abriga as sedes regionais dos principais meios de comunicação internacionais.

Mas o clima para a imprensa deteriorou-se consideravelmente com o reforço do controlo por Pequim, após protestos pró-democracia que abalaram a região, em 2019. A principal associação de jornalistas de Hong Kong considera agora que a liberdade de imprensa em Hong Kong foi dizimada.

A RTHK é financiada publicamente, mas é editorialmente independente. As autoridades começaram a reformar a emissora pública depois de esta ter sido acusada de cobertura excessivamente complacente dos protestos pró-democracia.

Pequim considera Taiwan uma província chinesa e defende a “reunificação pacífica”, mas tem ameaçado “usar a força” se a ilha declarar independência.