O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas retomou na quinta-feira os seus voos para a região norte de Tigray, contra a qual o Governo etíope tem vindo a travar uma ofensiva armada desde o início de novembro.

Num comunicado divulgado na quinta-feira à noite, esta agência da ONU referiu que o primeiro avião de passageiros do Serviço Aéreo Humanitário da ONU gerido pelo PAM desde 24 de junho — quando os voos comerciais para a região foram cortados — aterrou na quinta-feira no Aeroporto Internacional Alula Aba Nega, na capital de Tigray, Mekele.

Estamos extremamente aliviados com a chegada deste voo nesta sexta-feira, trazendo colegas que são essenciais aos nossos esforços coletivos para aumentar a resposta humanitária”, disse Michael Dunford, diretor regional do PAM para África, citado no comunicado.

Os voos da ONU irão agora funcionar duas vezes por semana, facilitando a rotação dos trabalhadores humanitários em Tigray.

Um comboio do PAM, porém, foi atacado no domingo perto da cidade de Semera, a capital da vizinha região de Afar – na qual o conflito se intensificou durante a semana passada – ao tentar transportar mantimentos para Tigray.

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A agência etíope para os refugiados (ARRA) também advertiu na quinta-feira sobre a situação dos refugiados eritreus que vivem nos campos Mai Aini e Adi Harush (oeste) – uma área onde houve combates nas últimas semanas – para onde fugiram alguns dos 20.000 refugiados que vivem nos campos Shimelba e Hitsats, que foram completamente destruídos nos primeiros meses do conflito.

Segundo a ARRA, uma agência governamental, pelo menos seis refugiados foram mortos pelos rebeldes da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF) e dois morreram por falta de cuidados médicos.

O conflito começou a 4 de novembro quando o Governo central lançou uma ofensiva contra a TPLF, que tinha governado a região até então, após uma escalada de tensões políticas nos meses anteriores e como retaliação a um ataque a uma base militar federal.

Em 28 de junho, a Etiópia declarou um “cessar-fogo humanitário unilateral” mas, embora o exército se tenha retirado de várias cidades (incluindo Mekele), forças da vizinha região de Amhara anexaram de facto Tigray ocidental, onde o acesso humanitário está bloqueado.

Embora tenha havido algumas melhorias desde junho, segundo as últimas informações do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), o movimento de entrada e saída da região norte continua a ser “extremamente complicado”, tornando o reabastecimento de abastecimentos e pessoal muito difícil.

Segundo a OCHA, cerca de 75% das pessoas que necessitam de assistência humanitária – cerca de 4 milhões em cerca de 5,2 milhões – encontram-se agora em áreas acessíveis, em comparação com 30% em maio.

O fim do conflito não parece provável a curto prazo, uma vez que tanto as forças amhara como tigray – parte das Forças de Defesa de Tigray (TDF) – expressaram a sua determinação em continuar a lutar pelo território.

Desde que a guerra começou, milhares de pessoas foram mortas, quase dois milhões foram deslocadas internamente na região e pelo menos 75.000 etíopes fugiram para o vizinho Sudão, de acordo com números oficiais.

A ONU também advertiu no início de julho que já há cerca de 400.000 pessoas em situação de fome em Tigray e outros 1,8 milhões à beira da fome.