O secretário-geral da Conferência Episcopal de Bispos Católicos Norte-Americanos (USCCB, sigla em inglês), Jeffrey Burrill, demitiu-se na quarta-feira após uma investigação partilhada pelo portal católico The Pillar que o acusava de frequentar bares gays e de ter utilizado pelo menos nos últimos três anos o Grindr — uma aplicação de encontros normalmente utilizada pela comunidade LGBTQ+.

“Na segunda-feira tivemos a informação por alguns media independentes dos comportamentos desviantes de Jeffrey Burrill. Para evitar que desvie as atenções do trabalho da Conferência, o secretário-geral decidiu demitir-se”, divulgou em comunicado o arcebispo José Gómez e presidente da USCCB.

Segundo o que apurou a investigação, que conseguiu aceder aos dados de georreferenciação do telemóvel do bispo extraídos alegadamente da aplicação Grindr, Jeffrey Burrill deslocava-se a várias casas e saunas, onde terá tido encontros sexuais com outros homens — que aconteciam muitas vezes após reuniões da Conferência em vários estados norte-americanos.

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A comunidade católica nos EUA ficou chocada com o escândalo, agravado pelo cargo de relevo que Jeffrey Burrill ocupava na hierarquia católica. Ao The Pillar, Thomas Berg, professor de teologia moral num seminário em Nova Iorque, considerou haver uma “desconexão entre a aparência de um homem que se está a esforçar por viver uma vida na castidade” e a realidade em que o sacerdote “procurava ativamente por parceiros sexuais”.

Contudo, vários setores da Igreja Católica também criticaram o método da investigação. O jesuíta James Martin, que é um dos principais defensores da inclusão da comunidade LGBTQ+ na Igreja, escreveu na sua conta pessoal do Twitter que as técnicas de investigação utilizadas pelo portal The Pillar eram “imorais”. “Artigos como este, e táticas como esta, de um site supostamente católico, dão a permissão a muitos católicos para odiar. Ou para odiar mais. E nada disto vem de Deus”, afirmou.

Também a aplicação Grindr, que já tinha sido acusada de partilhar dados dos utilizadores a outras empresas, reagiu ao sucedido. Em comunicado a que o The Washington Post teve acesso, a empresa considerou ser “inviável do ponto de vista técnico e extremamente improvável” que o portal The Pillar “tenha conseguido aceder à localização através da aplicação”. “As peças simplesmente não encaixam”, remata.