Enviado especial do Observador, em Tóquio
A Eslovénia, com Tadej Pogacar, Primoz Roglic, Jan Polanc e Jan Tratnik. A Grã-Bretanha, com Geraint Thomas, Simon e Adam Yater e Tao Geoghegan Hart. A Polónia, com Rafal Majka, Michal Kwiatkowski e Maciej Bodnar. A Austrália, com Lucas Hamilton, Richie Porte e Luke Durbridge. A Espanha, com Alejandro Valverde, Gorka Izagirre Insausti, Jesus Herrada, Omar Fraile Matarranz e Jon Izagirre. A Itália, com Alberto Bettiol, Vincenzo Nibali, Gianni Moscon, Damiano Caruso e Giulio Ciccone. A Bélgica, com Remco Evenepoel, Mauri Vansevenant, Wout van Aert, Tiesj Benoot e Greg van Avermaet. Havia mais, muitos mais, mas a lista pode ficar por aqui.
Não foi por acaso que escolhemos todos estes corredores de algumas das principais seleções na lista de entradas da prova de estrada dos Jogos Olímpicos – eram as fotos de grupo existentes nas agências internacionais quando pousavam antes da corrida. De João Almeida e Nelson Oliveira, nenhuma. Quase fazia lembrar aquilo que se passou também com Miguel Oliveira antes da corrida na Catalunha este ano, em que a realização colocava cinco pilotos como possíveis sombras de Quartararo e no final foi o português que levou a melhor. Aqui seria mais complicado, tendo em conta o número de adversários diretos mas também a quantidade de equipas que tinham estratégias diferentes contra um conjunto português resumido apenas a duas unidades. Mas entre o complicado não necessitava de ser algo impossível. E foi isso que o português da Deceuninck Quick-Step quis mostrar.
Depois de um início de corrida marcado pela queda que afetou alguns elementos da Grã-Bretanha e por uma fuga que chegou a ter vários minutos de vantagem, as rampas de Mikuni começaram a fazer o filtro com ataques que iam aparecendo de todo o lado e por parte de nomes de relevo como Tadej Pogacar ou Remco Evenepoel. Foi na parte final desse puxa-não puxa-puxa que o português acabou por descolar de vez, com Richard Carapaz a ser capaz de colar na roda de Brandon McNulty a 25 quilómetros do final e a fazer depois a saída final para a vitória na terceira passagem pelo autódromo de Fuji, a pouco mais de cinco quilómetros da meta.
O equatoriano não desperdiçou a oportunidade de ouro para ganhar a prova, ficando as outras duas medalhas para o belga Wout van Aert e para o esloveno Tadej Pogacar, que se conseguiram superiorizar no primeiro grupo perseguidor a 1.07 minutos de Carapaz à frente de Bauke Mollema, Michael Woods, Brandon McNulty, David Gaudu, Rigoberto Uran e Adam Yates, João Almeida acabou na 13.ª posição a 3.38 minutos, tendo ainda antes da classificação geral Maximilian Schachamann, Michal Kwiatowski e Jakob Fuglsang. Nelson Oliveira, o outro corredor nacional, acabou no 41.º posto à frente de Alejandro Valverde, uma das deceções do dia.
“O Nelson fez um trabalho de excelência durante toda a corrida. Trabalhou muito e deu excelentes indicações, porque só descolou já numa fase avançada da corrida. O João esteve perto de conseguir entrar na discussão do top 10, que era o objetivo. Considero que lhe faltou algum ritmo competitivo porque, desde o Giro, teve muito poucas provas. Poderia não ter passado com os melhores por estar desatento ou por ter hesitado num momento-chave mas não foi isso que aconteceu. Naquela altura de maior intensidade, após 200 quilómetros de corrida, não conseguiu mesmo fazer mais. Terminou num bom lugar, ainda por cima na estreia. É jovem e vai dar-nos muitas alegrias em próximas edições dos Jogos. O Nelson também começou a vir aos Jogos desde jovem e tem evoluído sempre”, comentou o selecionador José Poeira, em declarações à Federação de Ciclismo.
“Faço um balanço positivo da minha estreia nos Jogos Olímpicos. Tive boas sensações e força mas notou-se a falta de ritmo. Logo no início estive um pouco bloqueado mas notou-se mais com o avançar da prova e com o acumular dos quilómetros. Tenho de agradecer ao Nelson Oliveira pelo imenso trabalho que fez, ajudando-me na hidratação, colocação e força anímica. Agora, há que recuperar para dar tudo no contrarrelógio”, comentou também João Almeida, que igualou o terceiro melhor lugar de sempre de Portugal numa prova olímpica de estrada depois da medalha de prata de Sérgio Paulinho e de um décimo lugar de Rui Costa.