A Assembleia Municipal de Lisboa (AML) aprovou esta segunda-feira um voto de pesar pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril de 1974, cumprindo um minuto de silêncio em sua homenagem.

O documento foi aprovado com os votos contra do CDS-PP, PPM e de um deputado municipal independente, a abstenção do PSD e os votos favoráveis de PS, BE, PCP, PAN, PEV e oito eleitos independentes.

O voto, subscrito por PS, PEV e BE recorda o papel de Otelo Saraiva de Carvalho – que morreu na madrugada de domingo no Hospital Militar – na Revolução de Abril.

A Assembleia Municipal de Lisboa […] manifesta o seu mais profundo pesar, guardando um minuto de silêncio em sua memória, e dando conhecimento deste voto à família e à Associação 25 de Abril”, lê-se no voto apresentado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Numa declaração de voto oral, a deputada municipal do PPM, Aline Beuvink, afirmou não fazer “minutos de silêncio nem votos de pesar a assassinos terroristas condenados pela justiça portuguesa e que só não cumpriram pena porque foram amnistiados”.

“Por mim, que a terra lhe seja bem pesada pelos crimes que cometeu”, acrescentou.

Por seu turno, o deputado do CDS-PP Diogo Moura sublinhou que Otelo Saraiva de Carvalho “foi obreiro da liberdade e da democracia”, mas ressalvou que “depois atentou contra ambas” como “dirigente de uma organização criminosa”.

Nascido em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, atual Maputo, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.

No Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.

Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.

Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por dezenas de atentados e 14 mortos, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado cinco anos depois, uma decisão que levantou muita polémica na altura.