O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não-governamental moçambicana, considerou esta segunda-feira que o Governo moçambicano deve admitir a possibilidade de negociações com os grupos armados que protagonizam ataques no norte do país.
Numa análise com o título “Negociando com o extremismo violento”, o CDD assinala que a abordagem militar e o desenvolvimento social e económico da província de Cabo Delgado podem ocorrer em paralelo com o lançamento de um processo negocial com os grupos armados.
Aquela organização da sociedade civil moçambicana avança que é fundamental compreender as reais motivações dos grupos armados que atuam em Cabo Delgado, visando o entendimento das suas motivações e expetativas em relação a um possível diálogo para o fim da violência.
Admitindo que a insurgência no norte do país combina elementos de extremismo violento e atividade criminal, o CDD assinala que os grupos armados também têm uma génese religiosa, cultural e sociológica, o que é fundamento de peso para uma abordagem negocial.
Nessa perspetiva, prossegue a análise, deve acabar a marginalização económica e social das populações das zonas afetadas pela violência e a usurpação de terra das comunidades.
“Se as negociações com os grupos extremistas violentos em Cabo Delgado forem bem concebidas e geridas, podem ser uma ferramenta vital para a redução da violência na província”, lê-se no texto.
Num eventual processo negocial, o Governo deve oferecer cedências muito limitadas, para não se vergar perante exigências que ponham em causa os princípios básicos de funcionamento do Estado moçambicano.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, já reiterou várias vezes disponibilidade para negociar com o que considera “terroristas”, mas admitindo que esse exercício é complexo, uma vez não se conhecem os “rostos” dos grupos armados.
Um contingente de mil militares e polícias do Ruanda encontra-se em Cabo Delgado há mais de duas semanas para o combate aos grupos armados que protagonizam ataques na província, no quadro de um acordo bilateral entre o Governo moçambicano e as autoridades de Kigali.
No âmbito de um mandato outorgado pelos chefes de Estado e de Governo da SADC, a organização regional vai destacar para Moçambique um contingente militar para o combate à insurgência, descrita pelo Governo moçambicano e entidades internacionais como “terrorismo”.
Não é publicamente conhecido o número de militares que a organização vai enviar a Moçambique, mas peritos militares já tinham avançado que a missão deve ser composta por cerca de três mil homens.
Grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo Estado Islâmico.
Há mais de 2.800 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 800 mil deslocados, segundo a Presidência República.