O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou esta terça-feira que ficará na sexta-feira sem alimentos para distribuir em Tigray, a região da Etiópia em conflito armado entre o Governo central e as autoridades locais desde novembro passado.

O diretor-executivo desta agência das Nações Unidas, David Beasley, disse, no Twitter, que são necessários 100 camiões por dia para alimentar a população que a sua agência se propôs alimentar em Tigray, e que 170 camiões que se dirigem para lá estão agora bloqueados na região vizinha de Afar e não são autorizados a continuar a sua rota.

Afar e outras áreas limítrofes de Tigray foram recentemente atingidas por este conflito e foram atacadas pelas Forças de Defesa rebeldes de Tigray (TPLF). Beasley exigiu que os camiões detidos fossem autorizados a continuar a sua viagem porque as pessoas em Tigray não têm nada para comer.

Em Genebra, a Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciou a pilhagem e destruição de instalações de saúde em Tigray, que está a deixar centenas de milhares de pessoas – incluindo feridos e outras vítimas diretas da guerra – sem cuidados médicos.

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Os trabalhadores da saúde estão também a ser visados, com um total de 140 incidentes, que vão desde mortes a violência, assédio, restrições à circulação e ameaças.

Embora os trabalhadores da saúde estejam a regressar ao trabalho, estão a regressar a instalações com poucos recursos, tornando quase impossível o seu trabalho, e as restrições à transferência de dinheiro estão a impedi-los de receber os seus salários”, disse a porta-voz da OMS, Fadela Chaib.

Entretanto, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados manifestou a sua preocupação com o destino de cerca de 24.000 refugiados eritreus que se encontram presos há meses em dois campos em Tigray, com os combates entre grupos armados a intensificarem-se não só em torno dos locais, mas também dentro deles.

O conflito nesta região começou em 04 de novembro quando o Governo central lançou uma ofensiva contra a TPLF, que tinha governado a região até então, após uma escalada de tensões políticas nos meses anteriores e como retaliação a um ataque a uma base militar federal.

Em 28 de junho, a Etiópia declarou um “cessar-fogo humanitário unilateral” mas, embora o exército se tenha retirado de várias cidades (incluindo Mekele), forças da vizinha região de Amhara anexaram de facto Tigray ocidental, onde o acesso humanitário está bloqueado.

Embora tenha havido algumas melhorias desde junho, segundo as últimas informações do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), o movimento de entrada e saída da região norte continua a ser “extremamente complicado”, tornando o reabastecimento de abastecimentos e pessoal muito difícil.

Segundo a OCHA, cerca de 75% das pessoas que necessitam de assistência humanitária – cerca de 4 milhões em cerca de 5,2 milhões – encontram-se agora em áreas acessíveis, em comparação com 30% em maio.

Desde que a guerra começou, milhares de pessoas foram mortas, quase dois milhões foram deslocadas internamente na região e pelo menos 75.000 etíopes fugiram para o vizinho Sudão, de acordo com números oficiais.