O ano de 1999 lançou-a. Não foram muitas as atrizes (e os atores, diga-se) que encontraram na viragem do milénio, em Hollywood, uma rampa de lançamento para a fama como ela. Até aí, Mena Suvari era um nome e rosto desconhecido, mas os papéis em “American Pie” e “Beleza Americana”, que haveria de ganhar o óscar de melhor filme (entre outras estatuetas douradas), mudariam tudo. Mas atrás do grande ecrã, a vida estava longe de uma banheira de rosas. No livro de estreia, “The Great Peace: A Memoir” (“A Grande Paz: Uma Memória”, tradução livre), a atriz agora com 42 anos conta sobre como foi viver uma vida dupla durante esta fase, com um passado marcado por abusos sexuais e pelo consumo de drogas a deixar sequelas. No livro, recorda ainda um momento “estranho” com Kevin Spacey, com quem contracenou em “Beleza Americana”, ator caído em desgraça depois de ter sido acusado de abuso sexual.
No dia em que ela e Spacey iam filmar uma cena íntima, o ator então com 39 anos levou-a para um pequeno quarto com uma cama, deitaram-se lado a lado, Suvari virada para Spacey, que a segurava “levemente”. “Estar deitada ali com o Kevin era estranho e assustador, mas também calmo e pacífico… Eu não tinha a certeza se Kevin estava interessado em mim ou não. A minha cabeça foi imediatamente para aquele lugar, e eu não sabia até onde ele iria chegar ou como eu reagiria se ele fosse lá. Mas ele não fez isso”, conta no livro. À People, a atriz chegaria a contar que pensou naquele dia quando várias alegações de má conduta sexual caíram no colo de Spacey (o ator negou-as todas).

▲ Cena do filme "Beleza Americana"
DreamWorks SKG/Getty Images
Sobre os papéis acima citados, com uma forte componente sexual, a atriz chega a escrever na autobiografia que, a certa altura, habituou-se a ser escolhida para representar personagens sexy ou a ser o “objeto sexual”. “Era a arte a imitar a vida. Eu estava bem com isso. Queria apenas fazer o que precisava de ser feito e fugir de novo para o meu próprio mundo”, escreve, citada pelo The New York Times. O movimento #MeToo de certa forma incentivou-a a relatar aquilo que são anos marcados por drogas e por abusos sexuais.
“Entre as idades de 12 e 20 anos, fui vítima de repetidos abusos sexuais”, escreve. Aos 12 anos, Suvari foi coagida a fazer sexo com um rapaz de 16. E quando ela tinha 16, o seu agente em Hollywood, com mais de 30 anos, também teve sexo com ela. No livro, a atriz escreve que era jovem, vulnerável e estava desesperada por atenção. Os abusos não se ficaram por aí, com a relação descrita em maior detalhe a ser com um homem chamado Tyler, que conheceu numa rave quando ele tinha 26 e ela 17 — com a família fraturada, Suvari virou as atenções para Tyler que praticou abuso verbal e forçou-a a participar atos sexuais contra a sua vontade, eliminando por completo a sua autoestima. A relação durou três anos.

▲ Em 2012, a propósito do filme "American Pie: O Reencontro"
arlos Alvarez/Getty Images
Na adolescência, a atriz entregou-se às drogas para lidar com a dor: álcool, cocaína, metanfetamina ou Ecstasy são alguns exemplos. “Foi a minha maneira de me desligar do inferno da minha existência — e sobreviver.” À medida que a carreira deu o salto, a atriz sentiu-se a esconder uma vida secreta, dependendo da representação para se mostrar estável perante o mundo. Mas, agora, a conversa é outra. “Passei quase toda a minha vida a sentir nojo, vergonha e negação sobre o que aconteceu comigo e o que me permiti fazer”, escreve. “Um dia, parei. Parei de fugir e olhei para mim. Olhei para a dor e o que vi foi que estava pronta para deixar tudo para trás.”