As instituições de ensino superior em Portugal perderem, só no ano passado, cerca de 37 milhões de euros em propinas, resultado do abandono escolar neste grau de ensino. Os dados são avançados pelo jornal i, esta quinta-feira, segundo contas de Gonçalo Velho, ex-presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior. O responsável aponta o dedo ao Estado que “não compensou estas perdas” nas instituições.

“A pandemia provocou alterações profundas nas receitas”, disse ao jornal i, referindo que o “ensino superior não foi assumido como prioridade”. A quebra deve-se sobretudo ao abandono dos estudantes universitários tanto no ensino público como no privado, tendo em conta que quase 13 mil estudantes abandonaram o ensino superior um ano depois de se terem inscrito em 2018.

O total de propinas em 2019 nas instituições analisadas por Gonçalo Velho foi de 380,5 milhões de euros, valor que caiu 343,3 milhões em 2020 (o que resulta na tal diferença de 37 milhões de euros).

“O Estado não compensou estas perdas e isso volta a colocar o problema do seu financiamento e outras questões, como o modelo futuro de ensino superior”, apontou Gonçalo Velho, que diz que o ensino à distância, a redução da despesa e a redução de serviços não equilibram a balança em relação ao que diz respeito à perda de receitas apontando assim para um possível cenário de “crise no ensino superior”. O ex-presidente do sindicato refere ainda que “é importante que as instituições sejam compensadas por estas dificuldades de financiamento que tiveram em 2020”.

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A somar aos 37 milhões, o professor universitário fala em mais 18 milhões de perdas causadas pela tal redução de serviços como a produção de pareceres, relatórios ou até mesmo turismo, no caso da Universidade de Coimbra, uma das que foi mais afetada pela redução de receitas em propinas — 4,5 milhões de euros —, só ultrapassada pela Universidade de Lisboa com perdas de 11 milhões.

Gonçalo Velho não poupa críticas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que diz deixar o ensino “quase esquecido”, não apostando nas “questões da qualificação e formação avançada ao nível do ensino superior” e que isso poderá pôr em causa até a sobrevivência dos politécnicos.

Em cima da mesa não estará uma solução de financiamento público que passe pelo aumento das propinas, uma vez que poderia significar um maior número de alunos a abandonar as instituições.