Enviado especial do Observador, em Tóquio

três tipos diferentes de assobios no Tokyo Aquatics Centre, seja nas eliminatórias, nas meias-finais ou nas corridas para medalhas. Assobio 1: aquele assobio de felicitação quando é chamado o nome de um compatriota ou de uma estrela que ultrapasse a questão das nacionalidades. Assobio 2: aquele assobio que quase marca os compassos das braçadas, aplicados às provas de bruços e mariposa. Assobio 3: aquele assobio que é mesmo de quem não gosta, porque o espírito olímpico está sempre latente mas também tem alguns limites. Esta sexta-feira não foi exceção, com essa pequenina parte de percentagem de competitividade mais acesa a fazer-se notar.

Por todas as recentes polémicas que fizeram com que a Rússia participasse nos Jogos como Comité Olímpico da Rússia (ROC), tendo mesmo um hino especial nas cerimónias das medalhas, são os nadadores de Leste que estão mais nesse posto, não só no setor masculino mas até, ou sobretudo, no feminino quando está Yulia Efimova em causa. No entanto, não são os únicos. E a final dos 200 metros estilos mostrou isso mesmo.

Quando entrou para a corrida decisiva, depois de um frustrante quarto lugar nos 100 metros bruços, Michael Andrew ouviu a parte da bancada americana bem composta a apoiar mas não passou ao lado dos assobios.

Não foi um, nem dois. Foram mais. Nem todos eram votos de protesto à figura, claro, mas isso também existe.

Aos 22 anos, o nadador acabou por saltar para a ribalta da equipa americana de natação, não como as estrelas Caeleb Dressel ou Katie Ledecky mas porque assumiu publicamente que não queria ser vacinado antes dos Jogos Olímpicos. “É verdade, não tomei nenhuma dose. Porquê? Não quero inserir no meu corpo algo que não sei como me vai fazer reagir. Para um atleta de elite, é tudo muito calculado e não quis arriscar ficar fora da piscina uns dias, como podia acontecer se me vacinasse”, explicou durante o estágio antes da viagem para Tóquio, dizendo que a comitiva cumpria os protocolos de máscara e distanciamento sem colocá-lo em perigo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A opinião gerou uma grande discussão pública, incluindo em termos internos com várias críticas e declarações também de apoio a Andrew. Maya DiRado, representante dos nadadores americanos, foi uma das que comentou o tema e sem filtros. “Como antiga nadadora da Team USA, estou desiludida com a decisão que o Michael tomou e até com o raciocínio que levou a isso mesmo. Ele disse ‘Ao ir aos Jogos sem vacina mas como americano, estou a representar o meu país de várias maneiras e a liberdade que temos para tomar uma decisão assim’. Mas há coisas que me incomodam nisto. Gostaria que ele pensasse mais sobre o que tem mais orgulho de representar”, atirou, entre muitos outros reparos que levaram depois a respostas de alguns nadadores americanos.

Michael Andrew é em tudo um nadador à parte, que muitas vezes trabalha à parte do resto da equipa dos EUA e que tem o seu treino (feito com o pai e treinador) montado de forma completamente distinta do que é habitual. É o método “Ultra-Short Race-Pace Training”, que descobriram em 2009 e que coloca como principal foco a grande especificidade que é necessária por especialidade. Como explica o Wall Street Journal, Andrew não levanta pesos, não faz mais do que duas piscinas de uma vez nos treinos mas, em contrapartida, trabalha centenas de segmentos mais curtos. Os resultados, esses, na altura da verdade, não estão a chegar como esperado.

Qualquer que seja a razão, as coisas não estão a correr bem a Michael Andrew e a final dos 200 metros estilos foi o exemplo paradigmático disso mesmo: não partiu propriamente bem nos bruços, recuperou no setor de costas, saiu da mariposa para o livre como primeiro mas acabou por voltar a falhar o pódio (a prova foi ganha pelo chinês Shun Wang, naquela que foi a única final sem recorde mundial nem olímpico), acabando no quinto lugar para visível deceção da bancada americana, que esta manhã em Tóquio ganhou três medalhas mas nos 200 metros bruços (prata de Lilly King, bronze de Annie Lazor) e nos 200 metros costas (prata de Ryan Murphy).