O coordenador nacional do Movimento para a Alternância Democrática da Guiné-Bissau (Madem-G15), Braima Camará, afirmou este sábado, 31, que não existem dois presidentes no país, nem dois coordenadores nacionais do Madem-G15.

“Não há dois Presidentes da República na Guiné-Bissau e nem co-Presidente da República, mas sim um Presidente da República eleito democraticamente, graças aos esforços de todos vocês aqui. Quero dizer-vos também que não há dois coordenadores nacionais do Madem e nem dois presidentes do Madem, mas apenas um coordenador e mais ninguém”, afirmou o líder do Madem.

Braima Camará discursava na sessão de abertura do Conselho Nacional do partido, que vai decorrer até domingo numa unidade hoteleira, em Bissau. Antes, Braima Camará advertiu que o partido está de “olhos abertos” e recordou que os secretários regionais estão sob dependência direta do coordenador nacional do partido.

“Se houver qualquer movimentação estranha serão substituídos”, disse, salientando que quem quiser pode candidatar-se no próximo congresso, em setembro de 2022, à liderança do Madem-G15. Braima Camará explicou também que tem estado em silêncio nos últimos tempos, mas ouviu muitas coisas, sobretudo, daqueles que diziam que não tinha condições para defender o partido, alegando que é o único líder partidário que vê os “seus indicados no Governo exonerados e não consegue fazer nada”.

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O coordenador nacional do Madem-G15 recusou acusações de que foi comprado, afirmando que “nem Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos, tem dinheiro” para o comprar. Camará disse também que “acabou a brincadeira no Madem” e que a partir de agora só vai contar “quem está presente”.

“Ninguém é insubstituível no Madem. Se Braima Camará decidir sentar-se na sua casa, aparecerão melhores do que Braima Camará”, avisou. Em relação à distribuição de pastas ministeriais na coligação no Governo, Camará disse que a política é “feita de acordos e de compromissos”.

O coordenador nacional do Madem-G15 afirmou também que o partido deve respeitar a Constituição e o Estado de Direito democrático e que os militantes devem cumprir com os estatutos do partido.

O Madem-G15, segundo partido mais votado nas eleições legislativas de 2019 e que integra a coligação no Governo, manifestou indignação em abril na sequência de uma remodelação governamental na qual perdeu várias pastas governamentais.  Os quadros técnicos e a juventude do partido chegaram mesmo a exigir a sua saída da coligação.

O Madem-G15, juntamente com o Partido de Renovação Social (PRS) e a Assembleia do Povo Unido — Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) fazem parte da coligação no Governo no país. O PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) venceu as eleições legislativas de 2019, mas o seu Governo foi deposto em 2020 pelo Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló.

A semana passada, Braima Camará apelou à unidade dos guineenses e afirmou que não pode pertencer a regimes que não respeitam as regras do Estado de Direito.

“Não vamos promover a ditadura neste país. Eu tenho princípios, e os que me conhecem sabem que tenho convicção, que definitivamente os guineenses têm de entender-se, respeitar o Estado de Direito democrático”, disse, apelando ao diálogo, à tolerância e ao fim da violência.

Braima Camará fez as declarações no âmbito de mais um desentendimento entre a comunidade muçulmana relativo ao dia da festa do sacrifício e depois de o Governo, através do Ministério da Função Pública, ter anunciado o dia 21 de julho como feriado no âmbito daquelas festividades.

Em resposta, o Presidente guineense afirmou que não é um ditador e que o país é um Estado de Direito, mas que não vai permitir desordem nos partidos que fazem parte da coligação no Governo.

“Todas as instituições estão a funcionar. O Presidente é moderador. Desordem na Guiné-Bissau acabou e nem eu tenho o direito de fazer desordem. Agora, no exercício de funções as pessoas podem ter opinião desde que não ofendam ninguém”, afirmou Umaro Sissoco Embaló, em declarações aos jornalistas, após a tomada de posse do novo presidente do Tribunal de Contas.

“Se há um regime ditatorial? Eu não sou um ditador. Isto é um Estado de Direito”, disse o Presidente guineense, quando questionado pelos jornalistas sobre relações feitas recentemente pelo coordenador nacional do Madem-G15.

O Presidente guineense disse também que é preciso dialogar e que só há uma coisa que não permite, nomeadamente, “desordem no Madem-G15”, partido do qual era dirigente e que apoiou a sua candidatura às presidenciais. No início deste mês, o Madem-G15 apresentou ao chefe de Estado um relatório com um conjunto de recomendações para consolidar a coligação no Governo.