Arranca oficialmente a temporada 2021/2022 em Portugal e, ao contrário do que aconteceu na época passada, começa com o jogo do “costume”, a partida que começa a animar o verão dos adeptos do futebol nacional: a Supertaça. Para muitos é um jogo que aguça o apetite para o que vem aí até maio, novos jogadores, velhos conhecidos, vitórias (esperam) e (poucas) derrotas. Para duas massas associativas, no entanto, é uma oportunidade de ouro para ver o seu capitão levantar um “caneco” ainda antes de entrar agosto. Sporting, campeão nacional sem espinhas e Sp. Braga, representante da meritocracia na edição passada da Taça de Portugal, entravam em campo de olhos nos olhos, dentes cerrados e o mesmo objetivo. E, finalmente, com os muitos adeptos — comparando cerca de 8 mil com os zero que a nos habituámos –, cheios de saudades de ver os profissionais jogar à bola.

Os leões entravam em campo com a oportunidade de levantar o troféu com os seus adeptos nas bancadas, algo que não aconteceu aquando da vitória na I Liga, toda ela conseguida com as cadeiras vazias e silêncio nos recintos. Desde 8 de março de 2020, curiosamente na estreia de Rúben Amorim no banco leonino, num 2-0 aos Desp. Aves, que o treinador de 36 anos não vê os sócios do Sporting. Ou seja, chegou, venceu no arranque e viu público pela última vez.

Do lado do Sp. Braga de Carlos Carvalhal, que tantos jogadores tem “perdido” para Alvalade nos últimos tempos (além do próprio Amorim), conquistar a primeira Supertaça da história do clube era, claro está, objetivo máximo, porque assim o é em qualquer final. Mas conseguir algo pela primeira vez numa centena de anos de história numa instituição deverá ser moral que chegue para todos os jogadores e equipa técnica, como também para os adeptos dos minhotos que se deslocaram ao Estádio de Aveiro.

Uma curiosidade desta Supertaça? Rúben Amorim saiu sempre vencedor dos últimos encontros entre Sporting e Sp. Braga, com dois triunfos pelos bracarenses e três pelos lisboetas, que nunca mais perderam com os vermelhos e brancos. Em termos de estatísticas, todas sorriam aos leões, que têm mais vitórias nesta disputa e venceram as quatro finais em que encontraram os arsenalistas. Uma das quais, a Supertaça ainda a duas mãos, no ano de 1982. A equipa de Braga venceu a primeira mão por 2-1, mas os leões conquistaram de forma inequívoca o troféu com um 6-1 em Alvalade.

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Desejo de continuar nos campeões nacionais, vontade de história da equipa de Braga e (finalmente e ainda bem) adeptos, para quem o futebol é, afinal, jogado. Com muitas tendências em questão, estava lançada a Supertaça.

O jogo arrancou e os tais desejos foram desde logo personificados na atitudes dos jogadores de ambas as equipas. Pouco tempo de trabalho? Época a começar? Que importa isso para um Sporting que pressiona alto? E que tem um Sp. Braga, que joga sempre de cabeça levantada, a ver com a situação? Se é para começar a época, que se comece bem. Foi este (seguramente) o mote de ambos os treinadores e dos seus rapazes. Como é costume em qualquer Supertaça, no entanto, e embora as equipas tentem sempre lutar contra isso, a definição não era por vezes a melhor. Afinal, mesmo que queiram muito — e querem –, os jogadores têm sempre coisas a afinar. Quem nunca deixado a melhor forma: os adeptos de ambos os lados. Pelo contrário, as saudades das cadeiras de um estádio de futebol deixou-os ávidos de gritar e aclamar as suas equipas, de cantar após golos, de reclamar (claro) com umas “faltinhas” aqui e ali…

Sporting CP v SC Braga - Portuguese SuperCup

As equipas foram trocando pressão e intensidade, mas poucos lances de perigo. Na primeira jogada mais criativa do encontro, surge o 1-0, aos 20′. Ricardo Horta, capitão dos bracarenses, descobre com um grande passe Fransérgio entre os centrais do Sporting. O médio brasileiro trabalha bem e remata, com a bola a bater no poste e a entrar, sem muitas hipóteses para Adán. O Sp. Braga não marcava ao Sporting desde que no banco tinha… Rúben Amorim.

Estava na frente o vencedor da Taça de Portugal da época passada. No outro lado, contudo, estava o campeão nacional, que veio para cima e assumiu o jogo à procura do resultado. E isso funcionou menos de 10 minutos depois, quando Nuno Mendes, que fez uma bela primeira parte, descobriu Jovane nas costas da defesa arsenalista e o novo 10 dos leões fez golo na cara de Matheus.

O Sporting era agora a melhor equipa, mas sem que o Sp. Braga estivesse perdido no jogo. Os leões apenas estavam moralizados com o golo e, como já foi referido, parece que enquanto há pernas — e há durante muito tempo — os leões não desarmam. Palhinha cortou uma bola, Matheus Nunes descobriu Pedro Gonçalves pelo ar e o homem golo dos leões a época passada não se fez rogado. Na direita da área, dominou e ao segundo toque deu de “trivela” ao poste mais longe. Que golo para começar a temporada. Que golo para mostrar aos adeptos. Que golo para Pote continuar na senda que começou em 2020/2021. Estavam decorridos 43 minutos. Pouco depois, o jogo foi para o descanso.

No início da segunda parte, Carvalhal lançou Tormena no lugar de Raul Silva e, já durante os primeiros 10′, lançou Mario Gonzalez para o lugar de André Horta. O Sporting entrou seguro, como tinha terminado a primeira parte, e sempre a procurar, apesar de ser uma equipa com boa posse, bolas a rasgar para “partir” a equipa adversária. O Sp. Braga conseguia alguns lances de ataque também e, a páginas tantas, as equipas trocavam tentativas de ataque. Depois a coisa acalmava, depois trocavam ataques. Estavam decorridos 60′ e ainda havia pernas…

Pouco depois, num livre perto da área e descaído para a esquerda, todos esperavam o remate de um pé direito, mas foi Nuno Mendes a tentar bater por fora da barreira, acertando na malha lateral, mas pelo lado de fora. Foi mais ou menos por esta altura que os jogadores resolveram acalmar um pouco a história, mas com a definição a voltar a um nível mais baixo. Então, fez-se história. Não foi um golo, mas foi certamente uma vitória. Pelo menos para Roger Fernandes, jogador que substituiu Galeno no Sp. Braga, aos 70′. Isto porque Roger tem… 15 anos, tornando-se o jogador mais jovem de sempre a jogar uma Supertaça. No regresso dos adeptos, mais um presente.

Aqui, finalmente, as pernas começaram a dar de si. Era inevitável que, no primeiro jogo da temporada (ou noutro qualquer, já agora) a intensidade fosse a mesma durante 90 minutos. Muito menos provável era ver Sporting e Sp. Braga correr como se estivéssemos a meio da época. Até ao fim, com sete minutos de compensação, o Sporting foi controlando a situação mesmo sem bola. Com esta vitória, o Sporting passa a ter nove Supertaças, ultrapassando neste ranking o grande rival Benfica, que tem oito.

Seis anos depois, mais uma Supertaça para o Estádio de Alvalade, num encontro em que os vencedores foram merecedores e os vencidos estiveram também muito, mas muito bem. Já agora: nos últimos seis encontros entre as duas equipas, Rúben Amorim venceu sempre.

Para começo de época foi um regalo. Melhor, melhor, só ver quase 8 mil pessoas nas bancadas, incansáveis. Voltou o futebol.