Depois de deixar a final por equipas a meio e abdicar das finais individuais do All Around, dos saltos e das paralelas assimétricas, Simone Biles também não vai estar no evento final de solo — aquela que é a sua especialidade e onde era, mais uma vez, a grande candidata à medalha de ouro. De acordo com a USA Gymnastics, a ginasta vai ainda tomar uma decisão sobre a final da trave, a última em que pode marcar presença nestes Jogos Olímpicos.
“A Simone retirou-se do evento final de solo e vai tomar uma decisão sobre a trave durante a semana. De qualquer forma, estamos todos a apoiar-te, Simone”, escreveu a USA Gymnastics no Twitter. De recordar que, depois de já ter justificado as ausências das finais com a proteção da própria saúde mental, desencadeando um inédito debate mundial sobre a pressão exacerbada sofrida pelos atletas de alta competição, Biles já detalhou aquilo com que se tem debatido em Tóquio.
Simone has withdrawn from the event final for floor and will make a decision on beam later this week. Either way, we’re all behind you, Simone.
— USA Gymnastics (@USAGym) August 1, 2021
“Acho que as pessoas não sabem o quão perigoso isto é numa superfície dura de competição. Às vezes, nem eu consigo entender como girar. Eu realmente não consigo compreender como girar. É uma sensação louca não ter um centímetro de controlo sobre o teu corpo. O mais assustador é que, como não tenho ideia onde estou no ar, também não tenho ideia de como vou aterrar ou onde vou cair. Honestamente, é petrificante tentar uma acrobacia mas não ter a mente e corpo em sintonia. Desta vez é literalmente em todos os aparelhos, o que é uma merda…”, escreveu a ginasta no Instagram, explicando aquilo que, em termos técnicos, se chama twistie.
Desde que Simone Biles anunciou publicamente que está a lutar contra questões de saúde mental para ainda conseguir competir em Tóquio, a esmagadora maioria da comunidade desportiva uniu-se no apoio à ginasta — com poucas exceções, como é o caso de Novak Djokovic, que defendeu que tem de ser um “privilégio” lidar com toda a pressão mas entretanto desistiu do torneio de pares depois de ser eliminado do individual por estar “mentalmente exausto”. Já Michael Phelps, antigo nadador e recordista olímpico que já assumiu ter sofrido várias depressões e até ter passado por um período de abuso de substâncias, demonstrou total compreensão para com Biles.
“A forma mais fácil de explicar é que os atletas, os atletas olímpicos no geral… Nós precisamos de alguém em quem possamos confiar, alguém que nos deixe sermos nós mesmos e que ouça. Que nos permita ser vulneráveis. Alguém que não tente remendar-nos. Carregamos muito peso nos nossos ombros, é desafiante. Especialmente quando temos as luzes em cima de nós e nos atiram todas as expectativas para cima. Sempre que estamos numa situação de grande stress, quase que entramos em pânico. Temos de nos focar na nossa saúde mental e não colocar a nossa saúde e o nosso bem-estar em perigo. Temos de proteger os nossos corpos e as nossas mentes. É uma merda quando estamos a lutar com a nossa própria cabeça”, disse Michael Phelps.