Depois de deixar a final por equipas a meio e abdicar das finais individuais do All Around, dos saltos e das paralelas assimétricas, Simone Biles também não vai estar no evento final de solo — aquela que é a sua especialidade e onde era, mais uma vez, a grande candidata à medalha de ouro. De acordo com a USA Gymnastics, a ginasta vai ainda tomar uma decisão sobre a final da trave, a última em que pode marcar presença nestes Jogos Olímpicos.

“A Simone retirou-se do evento final de solo e vai tomar uma decisão sobre a trave durante a semana. De qualquer forma, estamos todos a apoiar-te, Simone”, escreveu a USA Gymnastics no Twitter. De recordar que, depois de já ter justificado as ausências das finais com a proteção da própria saúde mental, desencadeando um inédito debate mundial sobre a pressão exacerbada sofrida pelos atletas de alta competição, Biles já detalhou aquilo com que se tem debatido em Tóquio.

“Acho que as pessoas não sabem o quão perigoso isto é numa superfície dura de competição. Às vezes, nem eu consigo entender como girar. Eu realmente não consigo compreender como girar. É uma sensação louca não ter um centímetro de controlo sobre o teu corpo. O mais assustador é que, como não tenho ideia onde estou no ar, também não tenho ideia de como vou aterrar ou onde vou cair. Honestamente, é petrificante tentar uma acrobacia mas não ter a mente e corpo em sintonia. Desta vez é literalmente em todos os aparelhos, o que é uma merda…”, escreveu a ginasta no Instagram, explicando aquilo que, em termos técnicos, se chama twistie.

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Desde que Simone Biles anunciou publicamente que está a lutar contra questões de saúde mental para ainda conseguir competir em Tóquio, a esmagadora maioria da comunidade desportiva uniu-se no apoio à ginasta — com poucas exceções, como é o caso de Novak Djokovic, que defendeu que tem de ser um “privilégio” lidar com toda a pressão mas entretanto desistiu do torneio de pares depois de ser eliminado do individual por estar “mentalmente exausto”. Já Michael Phelps, antigo nadador e recordista olímpico que já assumiu ter sofrido várias depressões e até ter passado por um período de abuso de substâncias, demonstrou total compreensão para com Biles.

Simone Biles e a saúde mental dos atletas. É possível sobreviver à pressão de ser a “melhor de todos os tempos”?

“A forma mais fácil de explicar é que os atletas, os atletas olímpicos no geral… Nós precisamos de alguém em quem possamos confiar, alguém que nos deixe sermos nós mesmos e que ouça. Que nos permita ser vulneráveis. Alguém que não tente remendar-nos. Carregamos muito peso nos nossos ombros, é desafiante. Especialmente quando temos as luzes em cima de nós e nos atiram todas as expectativas para cima. Sempre que estamos numa situação de grande stress, quase que entramos em pânico. Temos de nos focar na nossa saúde mental e não colocar a nossa saúde e o nosso bem-estar em perigo. Temos de proteger os nossos corpos e as nossas mentes. É uma merda quando estamos a lutar com a nossa própria cabeça”, disse Michael Phelps.