Os trabalhadores da maior mina de cobre do mundo, a Escondida, no Chile, decidiram entrar em greve por considerarem que os proprietários anglo-australianos BHP mostraram indiferença face aos seus pedidos de aumentos salariais.

Depois de uma reunião com os trabalhadores, que terminou na noite de sábado, o sindicato anunciou, em comunicado, ter contabilizado 2.164 votos a favor do início de uma greve e 11 a favor de aceitar a última oferta salarial da BHP.

A contestação nesta indústria já começou há algum tempo e agravou-se no início do ano, com fortes críticas do sindicato às políticas nacionais seguidas.

Em fevereiro passado, o Chile, maior produtor mundial de cobre, caiu 13 lugares na lista global dos países com melhores condições de investimento em mineração, realizada pelo Instituto Fraser do Canadá com base nas opiniões de executivos e gestores desta indústria.

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A queda foi criticada pelo sindicato dos mineiros, que explicou a situação com a falta de políticas “transparentes” de exploração geológica.

“As diversas autoridades nacionais foram informadas de que as informações geológicas existentes não eram suficientes para manter o interesse dos investidores mineiros no nosso país”, disse o presidente da Câmara de Minas do Chile, Manuel Viera.

Na edição do ‘ranking’ de 2020, o Chile aparecia na 30.ª posição entre 77 países, e em 2019 estava no 17.º lugar.

Com esta descida na lista, o Chile perdeu a liderança na região para a Argentina e a Colômbia, passando para o terceiro lugar, à frente (na região) apenas do Peru e do Brasil.

“Quando os cidadãos e governantes assumirem que o Chile é um país mineiro, as coisas vão mudar. É preciso educar e informar claramente que uma percentagem muito importante do que entra nos cofres fiscais vem da mineração”, disse, na altura, Viera.

O Chile, que responde por 28% da produção mundial de cobre e que apesar da pandemia de covid-19 não parou as suas operações, produziu 5,7 milhões de toneladas em 2019, abaixo do número recorde de 5,8 milhões, registado em 2018.

Além do aspeto geológico, outras razões explicam a queda acentuada divulgada em fevereiro: a incerteza regulatória e a instabilidade social.

“Desde outubro de 2019 – quando começaram os graves protestos contra a desigualdade – o país vive um conflito social permanente, questão que também produz instabilidade política e é um dos fatores negativos”, explicou o sindicalista.

A mineração chilena desempenha um papel fundamental na recuperação económica do Chile e, no ano passado, contribuiu com o equivalente a 2,5 mil milhões de euros para os cofres públicos.

O cobre — também chamado de metal vermelho -, fundamental para a transmissão de energia, tornou-se o principal produto chileno e responde por quase 50% das exportações.

Gigantes como a BHP, a Anglo American, a Codelco e a Antofagasta Minerals operam no país, mas também coexistem inúmeras pequenas e médias empresas, e a indústria de mineração representa cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB).