Depois do período inicial conturbado, com avanços e recuos devido à pandemia da Covid-19, os negócios renascem na cidade da Praia e ninguém quer voltar atrás nas restrições para combater a doença em Cabo Verde.

“Apanhei a Covid-19 aqui praticamente desde o início”, recorda à agência Lusa Jakeline Oliveira, gerente do restaurante-bar cabo-verdiano-italiano Alkimist, um dos mais antigos da zona balnear de Quebra Canela. O estabelecimento comercial já tem cerca de 14 anos e Jakeline recorda que a pandemia da Covid-19 foi “trágica” para todos, principalmente para as empresas.

“A Covid-19 foi penalizante para todos, ainda está a ser, mas já melhorou bastante”, afirma a gestora, recordando os fechos, aberturas e reaberturas durante quase um ano e cinco meses de pandemia no país e que levou a várias medidas restritivas.

“Estamos aqui, regressando e tentando levar as coisas da melhor forma possível”, prossegue, referindo que ainda não contabilizou os prejuízos da maior crise económica da história do país, mas acredita que “foram muitos”.

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Jakeline Oliveira recorda as dificuldades durante a pandemia, tanto para o restaurante, como para os clientes, que estavam acostumados com festas e calor humano.

Mas com a vacina eu penso que as coisas já estão a melhorar, e acredito agora o certo é caminhar sempre em frente, já chega de caminhar para trás”, conclui a funcionária da restauração, um dos setores mais afetados pela pandemia em Cabo Verde.

Outro dos restaurante-bar mais antigos da capital de Cabo Verde é o Flor de Lis, na rua pedonal do Plateau, centro da cidade da Praia, onde trabalha há quase três anos Iníria Sanches, como assistente de comercial. Em conversa com a Lusa, recorda que os primeiros meses da pandemia da Covid-19 foram complicados, mas não perde a fé em dias melhores.

O Flor de Lis fechou nos dois meses do ano passado em que vigou o estado de emergência e depois foi-se adaptando às várias restrições adotadas pelas autoridades cabo-verdianas, com prejuízos a chegar aos 30%.

“Diminuiu bastante, de 20 a 30%”, contabiliza Iníria Sanches, avançando que o restaurante está a ganhar aos poucos o tempo perdido. “As pessoas vêm e agora estamos a adaptar-nos e acho que as coisas estão a melhorar muito”.

Para a responsável, os clientes estão agora mais confiantes muito por culpa da vacina e da diminuição de casos no país, e o restaurante está com níveis de ocupação média de cerca de 70%. “Espero que com o tempo cheguemos a 100% e vamos conseguir ultrapassar esta barreira”, refere a funcionária, ao meio da manhã e já com algum movimento no interior e na esplanada do restaurante.

No centro da cidade da Praia, todas as lojas e serviços estão abertos, tendo como restrição o uso de máscaras e de álcool gel e algumas com limitação do número de clientes e distanciamento.

Também na rua pedonal do Plateau situa-se a sede da Associação dos Artesãos da ilha de Santiago, que junta cerca de 50 membros ativos, que trabalham em barro, pedra, cabedal, bijutarias, vestuário, rendas e bordados, tudo produtos tradicionais para uma lembrança do país.

Há três anos na associação, Gelson Andrade é responsável pela fiscalização e sentiu os efeitos da pandemia da Covid-19, neste que é um dos muitos espaços de venda de “souvenirs” na cidade da Praia, sobretudo para turistas, nacionais e internacionais.

“Foi um sufoco”, recorda o artesão, lembrando que mesmo fechado no período de emergência, a associação continuou a pagar 100 mil escudos (906 euros) de renda mensal do espaço, além das despesas com luz, água e dos funcionários.

Com tudo praticamente parado e sem turistas durante vários meses, Gelson Andrade diz que o que tirou os artesões e a associação do sufoco foram as máscaras de pano que quase todos passaram a confecionar para prevenir a infeção pelo novo coronavírus.

“Mas estávamos quase a fechar as portas”, refere o artista, garantindo estar agora mais aliviado, com as visitas que já chegam a 60% do habitual, e ainda mais nacionais e emigrantes, e algum turista estrangeiro. “Já vemos uma luz ao fundo do túnel”, afirma o presidente da fiscalização da associação, que aproveita para apelar às autoridades cabo-verdianas a darem mais atenção aos artesãos.

“Não é só falar ou dar cartão, os artesões precisam de produtos para trabalharem. O cartão não põe o artista a ficar profissional ou melhor do que já é, ajuda a ter um nome, mas o queremos são produtos para trabalharmos”, insiste Gelson Andrade, que também reclama da “concorrência desleal” de produtos e artesões estrangeiros.

O Governo cabo-verdiano reconhece que o país vive a “maior crise económica, financeira e orçamental” da sua história, devido à pandemia, e o setor do turismo, que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) está praticamente parado desde março de 2020, depois do recorde de 819 mil turistas em 2019.

O executivo liderado por Ulisses Correia e Silva aprovou em Conselho de Ministros um segundo Orçamento Retificativo, orçado em cerca de 78 mil milhões de escudos (707,4 milhões de euros), entre despesas e receitas, incluindo endividamento, um aumento de 0,1% na dotação inscrita no Orçamento ainda em vigor. O documento foi aprovado na quinta-feira no parlamento, embora com alterações.