O bastonário da Ordem dos Médicos considerou esta segunda-feira, 2, que a decisão da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a vacinação dos jovens entre os 12 e os 15 anos cria desigualdades e contribui para a “entropia” no processo de vacinação, apelando a uma “rápida revisão” desta norma.

Em declarações à agência Lusa, Miguel Guimarães afirmou que a norma da DGS está a criar “desigualdades brutais” entre as crianças e famílias que podem ir ao médico e ter acesso a uma prescrição para poderem ser vacinadas e as que não têm. “Isto numa altura em que o acesso à saúde tem estado muito condicionado e em que todos os recursos deveriam ser focados na recuperação de doentes e não em mais um procedimento burocrático”, defendeu o bastonário.

Em comunicado, a Ordem dos Médicos diz que a decisão da DGS sobre o eventual alargamento das vacinas às crianças sem comorbilidades através de indicação médica “contraria a tese de que ainda não há evidência suficiente”.

No mesmo comunicado, a Ordem refere que mesmo entre os profissionais de saúde a norma “não foi recebida de forma clara”, com alguns especialistas que depois vieram a criticar o “acesso condicionado” da vacinação. “O processo tem de ser gerido de forma universal e ágil, como é aliás essencial no combate a uma pandemia. Desta forma, apelamos a uma rápida revisão desta norma, no sentido de esclarecer a mesma e reforçar a confiança na evidência científica e na ampla experiência já existente, protegendo os mais jovens da ameaça física, psicológica e social que este vírus tem representado para a vida de todos nós”, pode ler-se ainda no comunicado da Ordem dos Médicos.

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Por outro lado, esta situação, relatou Miguel Guimarães, já gerou hoje várias queixas à Ordem dos Médicos por parte de centros de saúde a dizerem que há muitos pais a telefonarem para saber o que têm de fazer para vacinar os filhos entre os 12 e os 15 anos “e os médicos não sabem bem o que hão de fazer”.

O pingue-pongue entre DGS e Marcelo

A polémica das últimas recomendações da DGS na última sexta-feira sobre a administração de vacinas contra a Covid-19 para crianças entre os 12 e os 15 anos com comorbilidades gerou também algumas reações. A DGS considerou que deve ser dada a possibilidade de vacinação a todas as crianças desta faixa etária por indicação médica e de acordo com a disponibilidade de vacinas, remetendo uma decisão sobre o acesso universal destas idades para mais tarde. As recomendações desencadearam a reação de Marcelo Rebelo de Sousa no sábado que salientou que as autoridades de saúde não proibiram a vacinação contra a Covid-19 para crianças saudáveis, considerando que “esse espaço continua aberto à livre escolha dos pais”.

DGS contraria Marcelo. Vacinação de crianças saudáveis depende sempre de indicação médica. Mas Presidente garante estar alinhado

As palavras do Chefe de Estado levaram a um reforço por parte da DGS que reafirmou depois que a vacinação de crianças sem doenças será “sempre necessária” a indicação médica a favor da inoculação, não bastando a escolha dos pais.

Neste domingo à noite, Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou a ideia de ter tido uma mensagem diferente da da DGS. “É fundamental que haja da parte dos pais uma iniciativa e depois o acolhimento pelas autoridades de saúde, naturalmente através da intervenção do médico”, justificou.