A maioria dos cientistas não tem dúvidas quanto à origem do aquecimento global, atribuindo a responsabilidade à emissão de gases de efeito estufa. Um estudo recente, realizado pela universidade chinesa de Sun Yat-Sen, de Guangzhou, confirmou que a quantidade de carbono na atmosfera continua a aumentar, fruto de um incremento contínuo das emissões, concluindo que 52% do dióxido de carbono (CO2) é emitido por apenas 25 cidades, 23 das quais são chinesas, sendo as restantes Moscovo (7º lugar, com 112,53 milhões de toneladas de CO2) e Tóquio (17º, com 66,08 milhões de toneladas de CO2).

Quando 170 países assinaram o Acordo de Paris em 2015, com a finalidade de limitar o incremento da temperatura do planeta – entretanto, em 2021, o número de adesões já tinha ascendido a 194 países, representando 97% dos gases de efeito estufa emitidos globalmente –, o objectivo era diminuir este tipo de emissões, essencialmente CO2, que é libertado sempre que se queima carvão ou derivados de petróleo para produzir electricidade, ou combustíveis fósseis para mover carros, comboios, aviões ou navios. É certo que os animais ruminantes, como as vacas, também libertam gases de efeito estufa (metano, CH4), mas essa é uma ínfima parte do problema.

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O estudo levado a cabo pela universidade de Sun Yat-Sen analisou os dados de 167 grandes cidades, em 57 países, sendo que Portugal e Espanha não integram a lista. A emissão de gases de efeito estufa foi considerada globalmente, mas também por sectores, da produção de energia ao tratamento dos lixos, passando pelo consumo da habitação e da indústria, além dos transportes rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo. A agricultura e a mineração não foram esquecidas, visando identificar as actividades que mais poluem, apesar do que conta, em termos ambientais, ser precisamente o valor total.

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O trabalho dos investigadores chineses aponta para uma redução das emissões de efeito estufa em 113 das 167 cidades analisadas, mas a realidade é que o incremento verificado nas restantes 25 é suficiente para explicar o aumento total das emissões, que continuam a crescer apesar da pandemia. E o facto de 23 das 25 cidades mais poluentes – entre as 167 estudadas – serem chinesas, diz tudo a propósito da responsabilidade que este país tem em relação às alterações climáticas.

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Para interpretar os resultados do estudo, os investigadores chineses tentaram encontrar argumentos que evitassem o óbvio. Ou seja, que à China cabe uma grande parte da responsabilidade pelo aumento da produção de gases de efeito estufa. Ao invés disso, procuram provar que aquele país asiático nada tem a ver com o assunto e até está a melhorar em termos ambientais, gerando menos emissões per capita e menos emissões face ao PIB. Mas o que está em cima da mesa, especialmente depois do Acordo de Paris, é que cada país deve reduzir as emissões em termos absolutos e não incrementá-las, mesmo que a população aumente ou produza mais riqueza. Os autores do estudo acusam ainda os restantes países de também poluírem, pois ao adquirirem os produtos fabricados na China – que apelidam de “fábrica do mundo” – são co-responsáveis pelas emissões enviadas para a atmosfera.

É certo que a China investiu fortemente nos veículos eléctricos, com o objectivo de reduzir a poluição no centro das grandes cidades. E aqui não nos estamos a referir ao CO2, mas sobretudo às partículas de fumo, que impediam muitas vezes a visibilidade dentro das grandes urbes. Resolveram o problema que era evidente e que se via à vista desarmada, mas em relação aos gases de efeito estufa, a competitividade da indústria local fala mais alto. Em 2019, a China poluía mais do que todas nações desenvolvidas juntas, de acordo com o relatório do Rhodium Group, o que levou o Presidente Xi Jinping a prometer, em Maio de 2021, que o seu país atingiria a neutralidade carbónica em… 2060. Ou seja, dentro de 39 anos. Isto apesar de a China ter ratificado o Acordo de Paris em Setembro de 2016, que limitava o aquecimento global a menos de 2ºC, idealmente 1,5ºC, acima do período pré-industrial, cortando nas emissões de gases de efeito de estufa.