Em abril de 2016, três meses antes do referendo em que os britânicos decidiram que o Reino Unido deveria abandonar a União Europeia, uma ideia ganhou força nos corredores de Bruxelas: criar um sistema de autorização de entrada no bloco comunitário, inspirado no ESTA dos Estados Unidos, que obrigaria todos os cidadãos de fora da União Europeia a candidatar-se a uma autorização para entrar nos países do espaço comunitário, mediante o pagamento de uma tarifa de 7 euros.

Agora, de acordo com uma notícia do jornal britânico The Guardian, sabe-se que o governo do Reino Unido, à época liderado por David Cameron, foi um dos principais apoiantes da ideia — que, a partir de 2022, vai obrigar os britânicos a pagar 7 euros para entrar nos países da União Europeia.

Em causa está o Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem (ETIAS, na sigla inglesa), uma ideia surgida inicialmente em 2011, mas que ganhou força em 2016 depois dos atentados terroristas em Paris (2015) e em Bruxelas (2016). O objetivo do ETIAS é aumentar a segurança das fronteiras externas da União Europeia, assegurando que todas as pessoas que chegam às fronteiras estão na posse deste documento, mesmo que venham de países com os quais a UE tem em vigor um regime de isenção de visto de entrada.

À semelhança do que sucede com o ESTA (Electronic System for Travel Authorization) dos Estados Unidos, que é o único documento de que os europeus necessitam para entrar no país, também o ETIAS dependerá apenas de um simples pedido feito digitalmente e que, para a esmagadora maioria dos casos, terá uma resposta positiva em poucos minutos. A obtenção deste documento está sujeita ao pagamento de uma tarifa de 7 euros — no caso de os visitantes terem entre 18 e 70 anos de idade.

O sistema ainda está a percorrer os complexos trâmites legislativos da burocracia europeia, mas em março deste ano já foi alcançado um acordo entre a Presidência do Conselho (liderada por Portugal) e o Parlamento Europeu, prevendo-se que o sistema possa entrar em funcionamento em 2022, depois da adoção formal da medida pelas instituições europeias.

Todavia, em 2016, numa altura em que a possibilidade de o Reino Unido sair da União Europeia já estava em cima da mesa, o governo britânico apoio entusiasticamente a ideia. “O governo do Reino Unido foi um dos maiores apoiantes, obviamente antes do referendo”, disse ao The Guardian o antigo eurodeputado britânico Claude Moraes, do Partido Trabalhista. O ex-eurodeputado acrescentou que o ETIAS era “visto como parte da securatização digital das fronteiras que o Reino Unido queria liderar dentro da UE“.

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