Bem sabemos que nos Jogos Olímpicos não é permitido qualquer manifestação política por parte dos atletas. O bom é que é possível dar espetáculo. Ou vá, música. Aquilo que aconteceu na competição individual de all around de ginástica rítmica era motivo suficiente para causar um conflito entre Israel e a Rússia — ainda que os dois países sejam muito amigos. Talvez a consequência não tinha sido tão gravosa porque neste desporto dá-se mais espaço ao glamour, ao movimento certeiro e à elegância do que a qualquer outro assunto.

É que a ginasta israelita Linoy Ashram, de 22 anos, venceu a medalha de ouro em Tóquio, ditando o fim da hegemonia russa que durava há 25 anos. Ou seja, desde os Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996. Talvez a melhor notícia para os russos seja que, desta vez, a campeã não é ucraniana, já que naquele ano, foi Kateryna Serebrianska a levar a medalha. A partir de agora, a música é outra.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Linoy Ashram derrotou logo duas  super gémeas, Dina (favorita, campeã mundial por três vezes, 12 campeonatos europeus) e Arina Averina (bicampeã mundial) que faziam a sua estreia numas Olimpíadas. A segunda ficou-se pela prata e a irmã nem sequer ao pódio chegou, com a bielorussa Alina Harnasko a roubar-lhe o bronze. Uma das músicas escolhidas pela israelita foi precisamente a “Run The World (Girls)” de Beyoncé, permitindo-lhe alcançar os 107.800 pontos nos quatro aparelhos. É o primeiro ouro feminino nesta modalidade para Israel da sua história. Fica-se sem saber se foi o primeiro ao som da super star norte-americana.

A prova foi, sobretudo, estimulante, especialmente na última etapa, até porque Linoy estava a defrontar a primeira e a segunda classificada da fase de qualificação destes Jogos. Arina Averina acabou prejudicada por um nó na fita, deixando que a atleta Alina Harnasko a ultrapassasse na corrida às medalhas.

Mas mesmo Linoy Ashram, medalha de prata nos mundiais de 2018, também passou pelo cabo das tormentas na mesma prova — deixando cair a fita –, conseguindo, porém, levar o segundo ouro para o seu país nos Jogos Olímpicos de Tóquio, depois de uma grande prestação nas outras três rotinas.

A verdade é que já o ano passado a ginasta tinha demonstrado aptidão para derrotar as russas: venceu a medalha de ouro na categoria individual de ginástica rítmica nos europeus, tornando-se na primeira atleta a vencê-lo que não pertencia nem à Bulgária nem tinha cidadania russa.

A melhor prestação de Israel nesta prova a nível olímpico foi um sétimo lugar em Londres 2012 alcançado por Neta Rivkin. Por outro lado, talvez se lembre da nova campeã olímpica depois de uma mítica fotografia da atleta se ter tornado viral. Linoy Ashram estava a competir em Varna, na Bulgária, quando a Reuters a apanhou “decapitada” durante a final (com bola) da ginástica rítmica.

A par de Portugal, Israel tem já a sua melhor prestação em Jogos Olímpicos. Tem, ao todo, quatro medalhas – dois ouros e dois bronzes. Nunca tinha ultrapassado as duas medalhas nesta competição.